JOHANNESBURG - O casamento forçado de meninas menores de idade é tão condenável quanto o apartheid e deve ser combatido com o mesmo vigor, considerou nesta terça-feira (6) em Johannesburg o ex-arcebispo anglicano sulafricano Desmond Tutu.
"Este é um problema que eu comparo ao apartheid na África do Sul, que eu gostaria de combater com a mesma paixão, o mesmo compromisso que eu tive para lutar contra o apartheid", declarou à AFP, à margem de um seminário sobre a questão do casamento infantil na África realizado pelo Grupo Elders.
Desmond Tutu foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1984 por seu papel na luta contra a segregação das populações com base no critério da cor da pele que foi praticado na África do Sul. "O apartheid procura deliberadamente silenciar toda uma comunidade, e esta prática (o casamento forçado) faz a mesma coisa. Realmente impede que comunidades inteiras se desenvolvam, como aconteceria se as meninas tivessem a chance de ficar mais tempo na escola", continuou o prelado, um dos ícones da luta contra o regime racista da África do Sul revogado em 1994.
Cerca de dez milhões de crianças são casadas a cada ano de maneira forçada no mundo, de acordo com estatísticas fornecidas por organizações públicas de saúde durante a conferência de Johannesburgo. Em Níger concentra-se a maior percentagem de casamentos precoces, com três a cada quartos meninas forçadas a se casar antes dos 18 anos, de acordo com essas fontes.
Se esta prática não for rapidamente abolida em todos os lugares, de acordo com Desmond Tutu, o mundo nunca vai conseguir atingir "os objetivos para o milênio" estabelecidos pela ONU para 2015, com a finalidade de reduzir a fome, a pobreza, e dar a todos o acesso à saúde e educação.
Graça Machel, esposa do ex-presidente Nelson Mandela, também falou durante a conferência e declarou: "Ninguém tem o direito de determinar o que deve ser a vida de outro ser humano. Mesmo se você for um pai, mesmo se você foi um guardião".