O problema do transporte público nas grandes cidades brasileiras chegou às ruas de forma violenta, a chamar a atenção da imprensa e, sobretudo, por causa das imagens dramáticas, das televisões. É o que se viu nos últimos dias, principalmente em São Paulo, mas que ameaça se espalhar pelo país.
Pelo visto, os jovens descobriram uma causa para lutar, depois de anos de letargia, desde que saíram às ruas, caras pintadas, exigindo o impeachment de Collor. Lutam agora pelo passe livre – ou por um transporte público barato.
Eles descobriram uma forma eficaz de se organizarem – as redes sociais, na internet. Como noticiou o Portal do Hoje em Dia, na última sexta-feira: usando um endereço do Facebook, um grupo programou reunião na tarde de sábado na Praça da Savassi, para definir a data de grande manifestação. A exemplo dos paulistas e cariocas, esses jovens querem redução das tarifas de ônibus. Em Belo Horizonte, elas foram reajustadas em dezembro passado, em 5,66%, e não há previsão para novo aumento.
Não importa. O que esses jovens querem é criar sintonia com o desejo daqueles que moram no Rio e São Paulo e que conseguiram despertar – alguns à custa de sua liberdade – a atenção da opinião pública e, espera-se, dos políticos. Pois são estes que decidem manter o transporte coletivo a reboque de outros interesses que não os da maioria da população.
Políticos que se movimentam pelas ruas da cidade em luxuosos carros oficiais, com motoristas, quando não podem ser levados por helicópteros pagos com o dinheiro do contribuinte. E que jamais, desde que chegaram ao poder, pegaram um ônibus ou um metrô em horário de pico, para ver como os súditos são tratados.
Como faziam, disfarçados, os califas das lendas de antigamente.
Até que se prove o contrário, os tempos são outros. Já não se vê a mesma indiferença, em relação ao transporte público. A continuar assim, não será mais possível cozinhar em banho-maria a expansão do metrô de Belo Horizonte e a instalação de meios alternativos aos tradicionais ônibus, como os BRTs e os veículos leves sobre trilhos.
A BHTrans, que no passado – e não mais – representou um avanço no transporte público da capital mineira não terá a mesma desenvoltura para, mediante simples portaria, como fez em 2011, impor restrições à gratuidade no transporte público.
Tempos interessantes se avizinham. Espera-se, tempos de muita aprendizagem, para todos, de boa convivência na democracia.