Foi um desrespeito ao consumidor o que se viu neste domingo, no Mineirão. Atraso na abertura dos estacionamentos. Poucas lanchonetes ou restaurantes funcionando e com bebidas e comidas vendidas a preços abusivos. Alguns fechados por inadequação às normas sanitárias, outros por falta de ligações de água ou eletricidade. Lixo e restos de material de construção espalhados pelo estádio recém-reformado.
Quem saiu de casa pensando em almoçar no Mineirão o tradicional feijão tropeiro, uma das marcas do antigo estádio, ficou faminto. Via-se, enquanto a bola rolava no gramado, torcedores perambulando à procura inútil de bebedouros. Ou parados na fila, por mais de uma hora, na esperança de comprar um refrigerante por R$ 6 e um sanduíche por R$ 8. Um médico havia se dirigido ao estádio logo depois do plantão para ver seu time jogar e, às 16h45, ainda não conseguira almoçar. Outro torcedor lamentava ter comprado um ingresso por R$ 130, para ser tão mal tratado.
A situação não era melhor para os funcionários do Juizado Especial e do Ministério Público que foram ao estádio para trabalhar durante o clássico Atlético e Cruzeiro. A juíza Cláudia Helena Batista e o promotor de Justiça Renato Augusto Mendonça não puderam atender às reclamações e às ocorrências policiais, por falta de condições. Tinham à disposição uma sala apertada, sem telefone e computador e uma única instalação sanitária, sem água e sem papel. A juíza teve dificuldade até para ingressar no Mineirão, pois não recebera a credencial. Dentro, ela viu muitos torcedores em pé, por falta de cadeiras. Também não havia espaço reservado para deficientes físicos. Sentiu saudades do antigo Mineirão, onde a juíza esteve a trabalho em junho de 2010, no último jogo antes do fechamento para as reformas.
Nessa situação de desrespeito aos seus direitos, os torcedores atleticanos e cruzeirenses que lotaram o estádio demonstraram um inesperado espírito esportivo. Só um deles foi detido, acusado de ter quebrado uma cadeira do estádio, mas não chegou a prestar depoimento aos juízes que deveriam estar ali para julgar crimes considerados de pequena gravidade. Até a noite de domingo, a Polícia Militar havia registrado apenas 10 ocorrências relacionadas com o clássico. Os sofridos torcedores estão de parabéns.
O vexame é de quem cuidou da organização do evento. Até a Copa das Confederações, todos precisam aprender como se organiza um espetáculo de futebol.