Divórcio na Usiminas pode acabar em fusão

06/07/2016 às 10:36.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:11

A briga caminha de fato para divórcio. O tom da discussão subiu e não há sinal de que os sócios majoritários da Usiminas – o grupo japonês Nippon Steel & Sumitomo e o ítalo-argentino Ternium/Techint – possam se reconciliar.

Ontem, a Nippon Steel publicou nos principais jornais do país (e também neste Hoje em Dia) anúncio de página inteira que traz um longo e detalhado relato, sob seu ponto de vista, da briga societária que já se arrasta há mais de dois anos. No texto, o grupo defende sua posição de ir à Justiça cobrar o retorno do ex-presidente Rômel Erwin de Souza, substituído a pouco mais de um mês por Sérgio Leite, apoiado pela Ternium e minoritários.

Não vou resumir todos os argumentos da Nippon, que estão clara e detalhadamente expostos no texto institucional. Mas farei um exercício de futurologia com base na entrevista coletiva concedida ontem, em São Paulo, pelo diretor-executivo da Nippon no Brasil, Yoichi Furuta. Ele apontou três possíveis soluções para a briga com a Ternium: a divisão dos ativos da empresa entre os sócios; a aquisição da participação de um deles pelo outro; ou a fusão (ideia até então sequer aventada) da Usiminas com outro grupo siderúrgico nacional.

“É claro que uma saída amigável seria sempre melhor”, disse Furuta, mas apenas protocolarmente. Nada na fala de ontem do executivo (e também no texto que mandou publicar nos jornais) deixou entrever a possibilidade real de encaminhamento de um acordo. “Os CEOs mundiais dos dois grupos estão buscando uma solução que, esperamos, seja a mais breve possível”, afirmou.

Na entrevista de Furuta, o terceiro ponto é o que mais chama a atenção por seu ineditismo e originalidade. Mas também o que foi menos detalhado pelo executivo quanto à sua estrutura de realização. O que significaria reorganizar a Usiminas com um terceiro grupo? Furuta diz que não é possível responder precisamente, já que a ideia não passa de uma possibilidade. Mas disse que, em linhas gerais, se trataria de uma fusão com empresa que oferecesse sinergia, ganhos de escala e possibilidade de adequação da oferta de produtos à demanda de mercado, que hoje está em queda livre. E ponto.

Entramos, agora, no campo das especulações. Para ter sinergia, tal empresa precisaria atuar no mesmo segmento, ou seja, em aços planos. Teríamos no páreo, então, ArcelorMittal (com Tubarão e Vega do Sul), a CSN, de Volta Redonda, principal concorrente da Usiminas, a Gerdau, que começa a produzir longos, e a CSA, que atualmente só produz placas. Vamos, então, descartar algumas delas para ver o que sobra.

A CSN, que seria a candidata número um, tem o problema, hoje intransponível, de ter no comando Benjamin Steinbruch, que tenta há anos avançar de forma hostil sobre o capital de sua concorrente e assusta a todos por sua agressividade. Já a Gerdau é muito pequena em planos, apesar do projeto de incrementar a produção a partir da usina de Ouro Branco, antiga Açominas. E a CSA já é fornecedora de placas para a usina da Usiminas de Cubatão, mas não produz laminados e, portanto, atua apenas de maneira pontual no mercado interno. O grosso de sua produção é voltada para exportação.

Resta, então, a Arcelor Mittal, que tem volume significativo e atua no mercado doméstico no mesmo segmento da Usiminas (entre outros). É, portanto, a noiva em que eu apostaria minhas fichas. Mas, como disse, trata-se apenas de um exercício de futurologia. A verdade é que no encaminhamento do divórcio tudo ainda é possível. Até mesmo uma reconciliação, apesar de a cada dia menos provável.

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