Dono da mineira Krug Bier, Herwig Gangl, fala do mercado das cervejas artesanais

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
21/07/2018 às 16:10.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:32

(Maurício Vieira)

Há 25 anos, o austríaco Herwig Gangl chegou ao Brasil com a família. O motivo da mudança, em 1993, era a aquisição de uma pedreira no Sul de Minas. Alguns anos mais tarde, em 1997, ele viu a oportunidade de dar continuação, em terras tupiniquins, da tradição familiar: as cervejarias. Nascia, ali, a Krug Bier, a primeira microcervejaria artesanal de Minas Gerais.

De lá pra cá, a empresa praticamente aumentou em 10 vezes a produção do “ouro líquido”, saltando de 24 mil litros mensais para 200 mil litros mensais. O crescimento da Krug acompanhou o mercado de cerveja artesanal nacional, que anda a passos largos. 

A ideia de quem consome esse tipo de bebida, aliás, é a de que a cerveja deve ser apreciada e não utilizada para “matar a sede”. Por isso, ganham força os rótulos IPA e as cervejas mais encorpadas. 
Confira mais sobre o mercado cervejeiro nesta entrevista com o sócio-proprietário da empresa. 

A Krug tem uma estrutura grande, com maquinários modernos, mas é considerada artesanal. O que difere a cerveja artesanal da industrial? 
Hoje, o princípio que difere as duas é que na cervejaria artesanal o cervejeiro tem mais autonomia para desenvolver a cerveja na forma que ele acha melhor. Ele tem menos influência do custo industrial, se preocupa mais com o sabor do que com o preço final do produto. Tem mais liberdade para atuar na criação da melhor cerveja. Outro ponto interessante é que as cervejarias artesanais têm como público a região em que ela atua. 

O foco da Krug Bier, então, é Minas Gerais. Mas vocês atuam em outros estados?
Sim, 80% da nossa produção fica em Minas. Porém, também possuímos pontos de vendas no Amazonas, São Paulo, Pará, Ceará, Bahia, Espírito Santo, Brasília e Goiás. 

Estamos atravessando uma crise econômica. O mercado de cervejas artesanais foi afetado?
Sim, muito. As pessoas começaram a comprar menos cervejas e precisamos aumentar o número de pontos de vendas, tivemos que conquistar novos clientes. O mercado inteiro teve que se mexer.

E essa estratégia tem dado certo?
Tem. Nós crescemos 20% em faturamento no primeiro semestre e pretendemos melhorar essa marca no segundo. O segundo semestre é bem promissor. Maurício Vieira 

 Quantos pontos de vendas tem a Krug Bier?
Temos redes de supermercados, então fica difícil precisar. Mas certamente são mais de 400 pontos. 

As cervejarias artesanais estão conquistando estes espaços, mas não é fácil. Mesmo na crise, o mercado está em ascensão?
Está, mas não é fácil permanecer nele. Aqui no Jardim Canadá, por exemplo, tem muitas cervejarias, até perdi as contas da quantidade. Só na nossa rua são três. Quando começamos, em 1997, nunca imaginamos que isso fosse possível. Nem há dez anos vislumbrávamos este mercado. 
O problema é que não basta produzir. O mercado tem algumas restrições. Tem que administrar, por exemplo, e você precisa saber em qual você se encaixa. Não tem como todas as fábricas atenderem aos segmentos de supermercado e autosserviço, por exemplo. 
O mesmo acontece com os bares. Você chega no bar e a carta de cervejas já é enorme, é um mercado muito pulverizado, com muitos rótulos. Mas isso é em Minas Gerais. Em outras regiões o mercado ainda não foi explorado. De qualquer forma, é preciso estratégia.

Qual cerveja tem mais saída no Brasil?
A Pilsen vende mais no Brasil, mas isso vem mudando. Ela é a tradição ainda. Para o futuro, apostamos que as cervejas especiais mais amargas, como a IPA, ganhem mais espaço. Nós temos percebido que os jovens gostam mais das cervejas amargas e o consumidor da cerveja artesanal é jovem.

Por que o brasileiro gosta da Pilsen?
A cerveja com gosto menos marcante é fruto de um movimento que começou há uns 30 anos nos EUA. Naquela época, as cervejarias queriam criar algo que agradasse a todos, para aumentar a margem de lucro. 
Por isso, quanto menos gosto marcante, quanto mais parecidas com água, era melhor. O problema é que ao invés de criarem uma cerveja que agradasse a muitos, surgiram cervejas que não desagradavam ninguém. As pessoas não bebiam porque gostavam, bebiam porque não achavam ruim. 

As cervejas artesanais são mais caras do que as industrializadas. Em tempos de crise, o preço pode fazer com que novos consumidores deixem de conhecer o produto?
Interessante que esta era uma preocupação no início. Mas começamos a perceber que os jovens preferem beber uma cerveja boa do que cinco industrializadas, sem gosto marcante.

Vocês têm facilidade para encontrar insumos?
Dependemos muito de matéria prima importada. Temos algumas tentativas de produzir lúpulo no Brasil, por exemplo, mas a geografia do país não é favorável. Precisa de muita luz e os dias aqui são mais curtos do que nos países perto do Norte. Por isso, importamos da Nova Zelândia, Alemanha e República Tcheca.

E qual o impacto da alta do dólar no preço final do produto?
O impacto é altíssimo porque compramos quase tudo de fora. A maior parte da cevada também vem de fora pois o Brasil tem plantação limitada. O malte também é importado. Só a água que está aqui. E não conseguimos reduzir mais a margem de lucro porque os impostos são altíssimos. Às vezes, eles aumentam de seis em seis meses. Não é fácil nessa conjuntura do mercado, com esse dólar alto. Estamos entre a cruz e a espada. Maurício Vieira 

 Quantos rótulos de cerveja são comercializados pela Krug?
Vinte. Temos uma situação favorável porque nosso maquinário permite flexibilidade na produção de cerveja, podemos fazer muitos estilos. Fomos premiados em vários concursos. E nós temos uma preocupação enorme com o produto como um todo. 
O rótulo é a primeira impressão que o consumidor tem da cerveja, investimos nele. Mas é necessário ser fundamentado por um produto de qualidade, senão não vende mais.

Como você descreveria o cliente das cervejarias artesanais?
São fiéis. Temos clientes que encomendam toda semana um barril de chope. Outros, vêm à fábrica com growler e levam para casa a Pilsen e a IPA. 

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