Dossiê do inverno 2016

Lady Campos - Hoje em Dia
01/11/2015 às 09:38.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:17

(Fernanda Yamamoto)

A temporada de dias mais frios ainda soa como um mero desejo, diferentemente do leque de tendências que aproxima as propostas da passarela do São Paulo Fashion Week (SPFW) da vida real. O leque de apostas é pautado muito mais no histórico da marca, no entanto leva em conta aspectos comuns, como a modelagem minimalista da roupa, herança dos anos 90 que tenta emplacar com força na temporada de frio. Para as antenadas de plantão, o Bela radiografou a nova cara da alfaiataria, assim como a força do jeans, do couro, das franjas e o retorno triunfal do veludo.

Com muitos cifrões no bolso e um clique, já é possível adquirir peças que acabaram de dar o ar da graça na passarela. A brasileira Farfetch, loja virtual, disponibilizou para venda bodies e lingeries que integram a nova coleção de Giuliana Romanno; camisas, vestidos e saias do inverno 2016 de Reinaldo Lourenço; e também o tricô de luxo da mineira Gig.

A intensa velocidade que impulsiona a cadeia de moda cada vez mais encurta o caminho entre a produção e o consumo. Na contramão do circuito fast fashion, uma trégua para (pequenas) delicadezas. Os estilistas Fernanda Yamamoto e Ronaldo Fraga (que ilustra a capa desta edição) apostaram as fichas em propostas que enaltecem a nossa cultura e o produto legitimamente brasileiro. Ronaldo se apropriou da seda produzida pelas artesãs paranaenses do Vale da Seda que transformaram essa base a deixando tricotada e felpuda, com aspecto mais rústico ou misturada ao algodão. Fernanda Yamamoto se encantou pelo artesanato do sertão do Cariri, na Paraíba. A nova coleção de inverno é toda feita a mão. Pedaços de renda com mais de 300 tipos de pontos foram depois tingidos e emendados, dando origem a looks incríveis.

O enigma da roupa sem gênero

Em busca da praticidade, recursos esportivos foram adicionados às novas coleções. O melhor exemplo é o inverno 2016 da Osklen, batizado de “Golden Spirit”. O tema faz alusão às Olimpíadas Rio 2016 e retoma o início da marca de Oskar Metsavaht, que abriu loja há três anos em Mikonos e, recentemente, viajou para a Grécia, berço das olimpíadas. O shape da roupa Osklen é limpo, com detalhes herdados de uniformes dos anos 1920, sem descartar a elegância da alfaiataria, como no longo preto e branco do alto da página. Para imprimir personalidade à alfaiataria, a marca Giuliana Romanno revitalizou clássicos com correntes, faixas e amarrações. O jogo de mostrar e esconder a pele é realçado através de recortes e vazados. Para injetar sensualidade e frescor à roupa de inverno, Wagner Kallieno utilizou uma série de recursos, como aplicação de detalhes em couro e metalizado em vestidos inspirados em peças masculinas. O jogo feminino/masculino foi o ponto de partida para o estilista Luiz Cláudio Silva (Apartamento 03) fazer uma coleção para Orlando, personagem de Virginia Woolf.


O balanço das tiras e o tecido de toque molhado

Se havia alguma dúvida de que o movimento de tiras pela roupa estaria fadado ao esquecimento, a passarela do SPFW provou o contrário. Franjas continuam firme e forte. Os anos 80 de Juliana Jabour mostraram o poder das mesmas no look da musa Fernanda Lima. A linha festa da PatBo também inseriu o recurso junto com outras artesanias da grife. Outra promessa de inverno é o veludo, novo preto do inverno 2016. O tecido, associado quase sempre à sofisticação, foi utilizado em vestidos, calças e blusas de Reinaldo Lourenço, que se inspirou numa viagem feita a Portugal. A descolada Osklen utilizou o veludo de seda para recriar blusas e calças de apelo esportivo.


Couro em versão variada e de cara nova

O desafio de trabalhar o couro de várias maneiras é levado à máxima potência pela designer Patrícia Viera. Inspirada no deserto do Atacama, ela combinou lã com couro em tressê e transformou chamois em uma iluminada constelação. Mas seu maior feito foram as tiras de couro em azul, amarelo, laranja e branco formando quadriculados de encher os olhos. No repertório da marca Gloria Coelho, o couro também sempre deu pinta. A fina alfaiataria trabalhada pela estilista homônima foi utilizada em vestidos longos cheios de recortes e fendas. Na nova coleção, pautada em um inverno rigoroso, pelos de carneiro e coelho, recursos usados em golas, cotovelos e que enfeitaram mantôs e paletós. A estreante marca Ratier usou a temática da roupa sem gênero com foco na modelagem minimalista e solta para vestido e trench coat em couro. Em novo momento de sua marca Helo Rocha (sem acento e substituindo a Têca), a estilista Helô Rocha inseriu o luxo de transparência combinado com couro. A nova coleção da marca tem foco no trabalho artesanal.


A força incontestável do blue jeans

Com personalidade de sobra para se impor em qualquer estação, o jeans renova seu repertório com modelagens inusitadas, lavagens elaboradas e outras interferências. Carro-chefe na catarinense Colcci, o índigo aderiu à forma geométrica da roupa de influência dos anos 60 e inseriu alguns elementos utilitários como maxibolsos em vestidos linha A. O design do mobiliário dos anos 50 e 60 migrou do tricô para o jeanswear da Coven, que fez parceria com a Carrera Jeans em jaquetas, calças e saias. O baiano Vitorino Campos compôs a nova coleção com microssaias, casacos e até biquíni em jeans. E a Amapô, conhecida por desenvolver calça em jeans que deixa bumbum empinado, recriou desenhos que mais lembram um patchwork de índigo.


 

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