É para o caixa da Usiminas que devemos olhar

29/07/2016 às 11:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:03

E então? O resultado da Usiminas divulgado ontem é bom ou ruim (leia matéria ao lado da repórter Tatiana Lagoa)? Gostaria de ter uma outra resposta direta mas, infelizmente, não foi nem uma coisa nem outra.

O resultado do terceiro trimestre veio em linha com o que os analistas esperavam. Ou seja, não surpreendeu positivamente nem negativamente. E é um resultado ainda muito acanhado, muito aquém das potencialidades da empresa, mas que traz algumas sinalizações positivas. Vamos a elas.

Mas, antes, uma rápida contextualização do ambiente no qual o resultado foi obtido. Todos sabem que a empresa é palco de uma briga fraticida entre seus dois sócios controladores, os grupos japonês Nippon Steel e ítalo-argentino Ternium/Techint. Essa briga, que já derrubou dois presidentes e ameaça a permanência do atual, gera instabilidade e ameaça descontinuar os esforços de recuperação da empresa.

A Usiminas atravessa atualmente a mais grave crise financeira de sua história. Sua dívida é muito alta (hoje está em R$ 7,1 bilhões) e a geração de caixa praticamente inexistiu nos últimos trimestres (chegou a ficar negativa no ano passado). A empresa corria risco de quebrar, perdeu credibilidade e seu valor de mercado hoje equivale a um doze avos do que era antes da crise.

Diante do risco, foi posto em marcha um plano de salvamento da empresa pelo ex-presidente Romel Erwin de Souza (representante da Nippon) e continuado pelo atual Sérgio Leite (representante da Techint) com três eixos principais: reestruturação da base produtiva para redução de custos, renegociação da dívida e busca de liquidez.

Foram, então, desligados os dois altos-fornos da usina de Cubatão e dois, dos três altos-fornos de Ipatinga. A empresa está concluindo um acordo de renegociação das dívidas com os bancos credores em boas bases (três anos de carência e mais sete para pagamento com juros abaixo do usualmente praticado). E neste mês entrou no caixa da empresa R$ 871,5 milhões colocados pelos sócios numa operação de aumento de capital.

Isso significa que o risco de fechamento ou de recuperação judicial já não existe mais. A empresa está líquida, com caixa suficiente para atravessar a atual crise, o que é muito bom. Falta voltar a ser lucrativa.

O resultado divulgado ontem mostra que a Usiminas ainda está longe de voltar ao azul, mas que as finanças começam a melhorar. E o dado que melhor reflete isso não é a pequena redução no prejuízo (de R$ 151 milhões no primeiro trimestre para R$ 123 milhões no segundo), mas o comportamento do caixa. A empresa, além de estar líquida, como disse acima, não perdeu caixa de um trimestre para outro.

Se considerarmos que o caixa da empresa aumentou R$ 977 milhões na passagem do primeiro para o segundo trimestre (para atuais R$ 2,7 bilhões), e que o aumento de capital injetou R$ 871,5 milhões na empresa, então, ela sozinha conseguiu gerar no período um caixa positivo de R$ 105 milhões.

É esse o dado que verdadeiramente sinaliza que o pior já passou para a Usiminas. E se o melhor mês do ano foi junho, como disse Sérgio Leite na apresentação dos resultados, então tudo leva a crer que o segundo semestre será de recuperação continuada. Não é certeza nem motivo de euforia, mas já traz um certo alívio. 

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