O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Sergei Soares, reconheceu, nesta sexta-feira (17), que a decisão de adiar publicações de estudos para depois das eleições pode manchar a reputação do órgão. "Sim, pode. Mas espero que não", afirmou. Disse que havia o risco de eventuais estudos divulgados serem usados como arma nas eleições de forma equivocada. A decisão, defende ele, foi amparada na lei eleitoral.
"A questão era de dois riscos. (Além da reputação) Você pode acabar divulgando uma coisa que vai ser usada por um ou outro candidato fora de contexto, de modo errado. O clima está muito ruim nas eleições", disse. O presidente do Ipea ainda disse que todos os estudos que estavam prontos já foram divulgados. "Não consigo pensar em nada que está pronto e não está sendo divulgado", afirmou, negando que haja, neste momento, publicações engavetadas à espera do fim das eleições. Soares disse, porém, que há um "extenso" calendário programado para o período posterior ao pleito. "Fizemos o próprio calendário para divulgar depois das eleições. Tem muita coisa que vamos lançar, não é pouca não", disse.
Diante de uma legislação "draconiana", o Ipea preferiu adotar a posição mais defensiva de postergar as divulgações, segundo o presidente. "Há interpretações mais rígidas e interpretações menos rígidas. Essa foi nossa interpretação." Questionado sobre se já foi adotada postura semelhante em eleições anteriores, Soares respondeu: "Não estava nem como presidente, nem como chefe de gabinete. Não posso dizer porque não participei, eu era um simples pesquisador nas outras eleições."
Em abril, o Ipea virou alvo de atenções ao admitir um erro em uma pesquisa sobre a violência contra a mulher. O órgão havia informado que 65% dos brasileiros concordavam com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Mas o dado, que teve grande repercussão, estava errado. Após detectar a troca de duas colunas em uma das tabelas, o Ipea retificou a informação e informou que o porcentual era de na verdade, 26%.
Exoneração
Soares também falou que o pedido de exoneração do diretor de Estudos e Políticas Sociais do órgão, Herton Araújo, foi um caso isolado. Araújo colocou seu cargo à disposição após discordar de decisão tomada em agosto pela diretoria colegiada do Ipea de não adiar a publicação dos estudos realizados pelos pesquisadores envolvendo dados públicos divulgados entre julho e o fim das eleições presidenciais.
"O clima está bom. Ótimo", disse Soares. Segundo Soares, nenhum outro diretor se mostrou insatisfeito com a situação. A decisão de agosto havia sido unânime, reforçou. "Foi só um diretor, e ele entrou depois (da decisão). Nosso diretor (de Estudos e Políticas Sociais) tinha saído e, no ínterim, entre sair o antigo e escolher o novo, a gente teve essa reunião. Quando o novo chegou, ele pediu para reabrir o assunto. Nós reabrimos, rediscutimos e mantivemos a decisão. Ele discordou e pediu desoneração. Eu respeito muito por ter feito isso, mas é uma decisão dele", detalhou Soares.
Soares participou de evento organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio, onde falou para uma plateia de representantes de think tanks da América Latina.
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