A indústria de alumínio primário, que amargou queda de quase 27% em 2014, frente a 2013, prevê novas baixas para este ano. Em Minas, aliás, a produção está interrompida desde o final do ano passado, sem previsão de retomar as atividades. O aumento na tarifa de energia pode ser responsável por jogar uma pá de cal na atividade, pelo menos no Estado. Vender o insumo no mercado livre é uma saída adotada pelas empresas do segmento.
Em Minas Gerais apenas duas empresas atuavam no setor. A Novelis encerrou as operações em Ouro Preto, na Região Central, no final do ano passado. Já a Alcoa, que atua em Poços de Caldas, no Sul de Minas, optou pelo abafamento temporário dos fornos em março de 2014. E o cenário não indica que haja mudanças, sequer, no médio prazo.
A alta na tarifa da energia é a principal responsável pelo período nebuloso pelo qual atravessa o setor. Em Minas Gerais, por exemplo, a eletricidade subiu 48% para as indústrias clientes da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), no dia 2 de março, devido à Revisão Tarifária Extraordinária (RTE), medida que afetou outras 57 distribuidoras espalhadas pelo país. No próximo dia 8 de abril, quando acontece o reajuste anual da estatal mineira, haverá novo aumento.
No processo de fabricação do alumínio primário, a alumina extraída da bauxita torna-se produto final por meio de choques eletrostáticos. Ou seja, por meio da energia. Dessa forma, a eletricidade é considerada insumo.
Custo de produção
Conforme explica o presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Milton Rego, em 2003 a energia representava 30% do custo do produto. Em 2014, este percentual saltou para 60%. Em 2015, embora ele ainda não tenha estimado um índice preciso, a expectativa é a de que algumas fábricas se tornem inviáveis comercialmente.
Sem competitividade e com o preço da energia nas alturas, a solução é vender o excedente no mercado livre (ambiente em que o valor da energia é negociado livremente) . O montante e as empresas que vendem o insumo não foram informados. “Nosso negócio não é energia, é alumínio. Mas o Brasil não tem competitividade no mercado internacional”, diz Rego, que ressalta o fato de o alumínio ser uma commodity, com valor negociado na bolsa de Londres. Como forma de compensação, entre 2013 e 2014 a importação de alumínio pelo Brasil quase dobrou, saltando de 332,9 mil toneladas para 638,1 mil toneladas.
A elevação no preço da energia, segundo ele, vem a longo prazo. O valor médio do megawatt-hora (MWh) negociado no setor girava em torno de R$ 32,9 em 2001, quando o nível dos reservatórios estava alto e o preço negociado no mercado spot, ou seja, à vista, era baixo. Com o passar dos anos, houve um aumento no valor do insumo. Em 2013, última média para o setor estimada pela Abal, o MWh era de R$ 132. Na comparação com 2001, houve aumento de 236,7%. A elevação mensal média foi de 10,6%.
“Como o Brasil é abundante em água, é errado que a energia seja tão cara. Ela é muito mais cara, aliás, do que em outros países que competem diretamente conosco”, afirma Rego. Ele ressalta que os impostos oneram a eletricidade.
Para enfrentar esse problema, o presidente-executivo afirma que agendou para a próxima semana uma audiência com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, com o objetivo de tentar negociar soluções para o setor. Em Minas Gerais, estado em que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) representa 42% da tarifa, as conversas deveriam ficar a cargo das empresas eletrointensivas que atuam na região. A Alcoa preferiu não se manifestar.