Benjamin Steinbruch: "só louco investe hoje no Brasil"

Janaína Oliveira - Enviada Especial
13/08/2014 às 08:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:46
 (IABR)

(IABR)

SÃO PAULO – O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, fez nessa terça-feira (12) um duro discurso pedindo mudanças na política econômica brasileira.   Para um auditório lotado, durante a solenidade de abertura do 25° Congresso do Instituto Aço Brasil, em São Paulo, ele disse que o Brasil nunca vivenciou um ano eleitoral em que a expectativa é de recessão econômica. “Só louco investe (hoje) no Brasil”, afirmou.    Segundo ele, há um risco iminente de desemprego pela falta de perspectiva de negócios.    “Os problemas do Brasil e do setor são a mesma coisa. O problema é de todos nós. Estamos chegando no limite. O país pode piorar muito. Aí os negócios pioram e o nível da sociedade piora também. É preciso criatividade para tirar o Brasil dessa situação”, afirmou.   Steinbruch reclamou ainda do Custo Brasil e da dificuldade de diálogo com o governo federal. “Falta comunicação, nossas dificuldades não chegam em Brasília”, disse.    Ele disse que o Brasil precisa fazer algo “muito diferente”, já que o país está chegando a um limite. “Medidas paliativas não adiantam. Eu só acredito em uma solução, se houver algo muito diferente para solucionar nossos problemas. Só algo agressivo para arrumar essas distorções”, afirmou.   O presidente da CSN disse também que é difícil encontrar um empresário que esteja otimista com as perspectivas de curto prazo, sendo que há notícias de que grandes empresas já começaram a promover cortes de pessoal e redução no volume de produção.    O executivo disse, por outro lado, que a indústria brasileira é rápida e que responderá assim que forem vistos sinais mais positivos em relação ao andamento da economia.     Defesa   Também presente na abertura do evento, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, reconheceu que o país passa por um momento de “maré baixa”.   “O Brasil demorou a sentir os impactos mais fortes da crise internacional. Fomos bem até 2010. Agora estamos atingindo o fundo do poço”, admitiu.    Segundo o ministro, o mundo tem crescido, desde 2008, numa média de 3,5%, mas quando se exclui a China, o resultado é de quase estagnação.   “Não há uma carta na manga, mas o Brasil tem condições de avançar. O país pode resolver seus próprios problemas”, disse.    Mauro Borges destacou investimentos de R$ 193 bilhões do Minha Casa, Minha Vida e o programa de concessões que deve injetar R$ 200 bilhões na infraestrutura logística brasileira como propulsores da economia brasileira.       CSN desiste da usina de Congonhas   Benjamin Steinbruch admitiu, nessa terça-feira (12), que a CSN desistiu do projeto de construção de uma usina de aços planos e longos em Congonhas, com investimento de R$ 6 bilhões. O executivo afirmou, entretanto, que ainda estuda a construção de uma unidade apenas de aços longos na cidade.   Sobre a mineradora Namisa, cuja jazida também está em Congonhas, Steinbruch disse que está otimista em relação às discussões com suas sócias asiáticas (a trader japonesa Itochu, mais as siderúrgicas japonesas JFE Steel, Kobe Steel e Nisshin Steel, a sul-coreana Posco e a taiwanesa China Steel).    A CSN, que detém 60% da mina, pretende fazer uma fusão dos ativos de mineração e logística. “Está caminhando. É um bom ativo. Se ficar com a fusão, é ótimo. Se ficar sem, também”, disse.  Steinbruch também admitiu estar na disputa para a aquisição da usina norte-americana de Gallatin Steel, da siderúrgica brasileira Gerdau e da indiana ArcelorMittal. A Gallatin Steel, localizada em Kentucky, produz seis milhões de toneladas anuais de bobinas a quente.       Minientrevista Benjamin Steinbruch Presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)   A CSN manteve os investimentos previstos? Há perspectiva de cortes? A questão não é corte de investimentos porque nós temos condições de continuar a fazer. A questão são as condições para isso. Todo mundo gosta de investir,  todo mundo quer fazer. Não só a CSN, mas todas as empresas, todos os empreendedores, se tiverem condições vão investir, vão empreender. Agora precisa ter condições.    O senhor falou sobre a possibilidade de recessão ainda neste ano. As empresas já estão demitindo? A realidade que nós temos é essa, por enquanto. Estava prevista essa dificuldade, agora a gente tem que combater isso e tentar não deixar que isso aconteça. Tem muita gente na iminência de eventualmente tomar a decisão de mandar empregado embora. Por isso que eu digo que o consumo tem que continuar, independentemente de qualquer coisa. É claro que ninguém quer inflação. E é claro que o governo tem um medo muito grande da inflação porque ela derruba qualquer tipo de perspectiva de reeleição do governo federal.   Mas a recessão é no setor ou no país de forma geral? O setor reflete a situação no país. A gente não anda separado. Agora a gente tem que saber jogar porque se nós priorizarmos só a inflação, certamente a gente vai ter recessão, desemprego, diminuição da atividade, e que trazem outras complicações. Então a inflação é um problema, mas não é o único.   A CSN vai destinar um pouco mais de volume para o mercado externo no segundo semestre? Já estamos fazendo isso. Mas aí você tem a dificuldade do dólar, porque o real está muito valorizado. Estamos exportando, mas precisaríamos ter uma moeda mais atualizada. O real está supervalorizado, mas essa é uma opção para não parar. Mesmo que a margem seja menor, a gente tem que usar dela nesse momento para evitar parada de produção.    As exportações incluem aços longos? Não. Com o produto longo estamos entrando no mercado agora e não há necessidade.   Nesse momento, a situação da mineração é melhor? A mineração vive mais em função do mercado externo. O comprador é a China, que está se comportando bem e favorecendo o setor. A verdade é que a China está performando melhor do que todo mundo diz.    Na sua avaliação, qual o cenário para os preços do aço de agora para frente? Espero que seja melhor. Quando você tem um mercado difícil, a primeira coisa que você faz é reduzir preço.  Agora isso vai até um limite. Já estamos com  uma margem muito apertada.    Uma possível desaceleração da China é um risco a mais para o setor siderúrgico? Sempre é, mas não é isso que estamos vendo hoje. A China está performando mais do que todo mundo. Continua muito bem e demandando matérias primas. Neste momento, a China está fazendo até melhor do que a gente esperava.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por