Enquanto o “pibinho” tira o sono de economistas e governantes, o mercado de trabalho tem feito a alegria dos brasileiros. Apesar da maré de pessimismo que ronda a economia, intensificada pela desaceleração da indústria, alta da inflação, elevação dos juros e crescimento moderado do consumo das famílias, ocupações continuam em alta e as taxas de desemprego, bem baixinhas.
O descompasso entre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que em 2012 foi de apenas 0,9%, e o índice de desemprego, que na média Brasil está em 5,5%, o menor da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciada em 2002, surpreende até mesmo especialistas.
“A força do emprego mostra que os brasileiros estão melhores do que o próprio Brasil. São dois Brasis completamente diferentes”, admitiu o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, ministro Marcelo Neri, que também acumula a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Descolamento
O descolamento entre crescimento e vagas se repete em Minas. Nos primeiros três meses de 2013, a economia mineira recuou 0,2%. No trimestre seguinte, novo desempenho negativo, de 0,1%. Nada, entretanto, capaz de abalar o mercado de trabalho.
Ainda que as admissões tenham desacelerado, fazendo com que a taxa de desemprego na Região Metropolitana de Belo Horizonte subisse de 5,6%, em janeiro, para 7%, em julho, não houve número significativo de demissões.
Resistência
Para o professor de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em mercado de trabalho, Mario Rodarte, na expectativa de que a economia vá se recuperar, os empresários estão resistentes em demitir.
“A redução de postos agora pode não ser interessante. Na eventualidade do cenário econômico melhorar, em uma situação de quase pleno emprego como a atual, a empresa pode perder para a concorrência”, afirma.
Se a indústria segue em compasso de espera, o setor de serviços mostra vitalidade. O segmento cresce bem acima da média brasileira e é campeão na absorção de mão de obra.
“Embora o modelo esteja se esgotando, a política econômica prioriza o crescimento através do consumo interno. Com isso, garante bom nível de emprego. Mas é uma aposta que, a longo prazo, não vai se sustentar”, diz o vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG), Fabrício de Oliveira.
Para ele, caso não haja reformas estruturais, o crescimento morno acabará batendo à porta do mercado de trabalho.