Cetec desenvolve tinta automotiva que repara riscos

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
12/01/2014 às 08:05.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:17

(Flávio Tavares)

Imagine se a pintura do seu veículo fosse capaz de reparar, automaticamente, os arranhões e defeitos que ela sofresse, por meio de um processo natural de cicatrização. Parece bom demais para ser verdade, mas, acredite, essa poderá ser a realidade dos carros brasileiros a partir de dezembro de 2016, quando um projeto de tintas autocicatrizantes (self-healing), desenvolvido no Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), começará a ser testado na fábrica da General Motors do Brasil (GM).   O produto foi inspirado no processo de cicatrização dos seres vivos, a exemplo do que ocorre em nosso corpo quando nos machucamos. Ao detectar uma lesão, nosso organismo imediatamente encaminha pequenos agentes responsáveis pela regeneração ao local lesado para que eles reparem o dano e restabeleçam a integridade da pele.   “O que a engenharia tenta fazer é imitar esse processo. Nesse caso, um agente cicatrizante é encapsulado dentro de nanocápsulas que vão ser incorporadas às tintas automotivas. Assim como os remédios, o agente vai sendo liberado aos poucos, ‘cicatrizando’ riscos e defeitos na superfície do automóvel”, explica a pesquisadora do Instituto Senai de Inovação (ISI) em Engenharia de Superfícies do Cetec e criadora do projeto, Rosa Maria Rabelo Junqueira.   O estudo, desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do Paraná e de São Paulo, obteve a nota máxima (875 dos mil pontos distribuídos) no Edital Senai Sesi de Inovação 2013, dirigido às empresas que desejam desenvolver e implementar um projeto inovador em produtos, processos, serviços ou tecnologias sociais.   Aplicação   Segundo a pesquisadora, a tecnologia é inédita no Brasil e deverá ser aplicada em larga escala até 2021 – a meta é torná-la menos dispendiosa para que possa estar presente em todos os carros. Fora daqui, fabricantes como BMW e Nissan já empregam a tinta self-healing em alguns de seus modelos de veículos mais luxuosos.   “Mas é tudo uma questão de escala. À medida que formos aumentando e simplificando o processo com mais conhecimento, a tendência é a de baixarmos o custo. E como tudo evolui muito rapidamente, acho que em menos de cinco anos após os testes já teremos carros com a tinta inteligente aqui”, diz Rosa.   Custos   Em fase de reforma e ampliação, o Cetec ainda não oferece a infraestrutura necessária para o desenvolvimento do projeto da tinta autocicatrizante. Então, a primeira fase será realizada em um instituto parceiro na Alemanha. Uma pesquisadora mineira vai acompanhar o processo durante um ano e, após esse período, a iniciativa será transferida para Belo Horizonte.   “Aí, nós faremos tudo aqui, dentro dos nossos laboratórios, recebendo pesquisadores alemães. Passaremos pela prova de conceito, para mostrar à indústria automotiva que a tinta funciona, e, depois, partimos para o estudo em escala piloto, já dentro da fábrica, com veículos de verdade”, define Rosa.   O estudo econômico do projeto ainda não foi feito e, segundo a pesquisadora, essa não é uma preocupação, no momento. Já o custo da pesquisa, até agora, está estimado em, aproximadamente, R$ 800 mil.    Aeronáutica e petrolífera   Além dos automóveis, a tinta poderá ser empregada na indústria aeronáutica, em navios e até nos equipamentos utilizados na extração do petróleo na camada do pré-sal, no fundo do mar.    O principal problema, nesse caso, é a corrosão. Com um revestimento com elementos capazes de inibi-la, que vão sendo liberados lentamente, durante a vida útil do produto, não haverá problemas de corrosão, o principal desafio da indústria petroquímica.

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