Chefs apostam em casas menores para conquistar a classe média

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
16/06/2014 às 07:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:01
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Um novo filão no ramo de restaurantes foi descoberto e está sendo explorado com sucesso em Belo Horizonte: o da cozinha moderna para a classe média, que une alta culinária a preços compatíveis com o bolso desse grupo consumidor, cada dia mais qualificado e ávido por novidade. A estratégia dos chefs empreendedores é montar estabelecimentos no estilo mignon, com custos menores para os patrões e valores menos salgados para a clientela.   É essa a filosofia da Cantina Piacenza, na rua Aimorés, em Lourdes. “A pegada é aplicar a técnica internacional nos ingredientes nacionais para caber no bolso de qualquer cliente. Pensei em um lugar onde meus amigos pudessem vir”, diz o chef e proprietário da casa, Américo Piacenza. Com experiência na cozinha de grandes hotéis e embarcações que navegam pelo rio Sena, em Paris, ele trouxe na bagagem a vontade de oferecer o clássico da alta gastronomia com gostinho do tempero da vovó.   Com poucos recursos, optou por uma loja, que requer menos investimentos que uma casa, por exemplo. Em pouco tempo, aumentou o número de mesas de cinco para 12. “Uma estrutura enxuta possibilita colocar preços mais atrativos no cardápio”, afirma. De segunda a sexta-feira, o almoço com entrada, prato principal e sobremesa sai a R$ 38,90. Uma das combinações mais pedidas é salada ao molho de limão com lascas de parmesão, fagotini de bracciola e sorvete de paçoca com chocolate meio amargo. Para jantar, massas a partir de R$ 38. Com pato e camarão, saem a R$ 60. Para beber, vinhos entre R$ 54 e R$ 100.   A receita é a mesma no Birosca Bistrô, em Santa Tereza. Após receber uma herança do avô, a chef Bruna Martins Teixeira investiu R$ 100 mil em uma casa alugada no bairro boêmio. “Minha preocupação sempre foi trazer uma gastronomia comfort food, que desperta sensações agradáveis e evoca boas memórias. E optei por fazer isso na região Leste, com preços mais acessíveis. Se fosse em Lourdes, teria que cobrar no mínimo duas vezes mais caro”, diz Bruna, que tem no currículo estágios nos badalados Vecchio Sogno e Taste-Vin.   Com a propaganda boca a boca e a publicidade espontânea no jornal New York Times, que citou o bistrô como um dos lugares imperdíveis na capital mineira, Bruna já expandiu de 16 para 20 a quantidade de mesas e aumentou de quatro para sete o quadro de funcionários. O prato individual mais caro da casa – barriga de porco assada com vieira, farofa de pururuca e angu de canjica branca – custa R$ 42. O mais barato, ravioli de batata e bacon com pescoço de peru e picadinho de carne, sai por R$ 38. Para beber, vinhos entre R$ 39 e R$ 132, cerveja ou espumante.   Comer e beber bem sem pagar tão caro é o lema do chef italiano Massimo Battaglinni, sócio da Salumeria e do Pecatore, ambos na rua Sapucaí, na Floresta. “Até pela localização, próxima do Centro, são estabelecimentos democráticos, que oferecem comida de qualidade com preço acessível”, define. Na Salumeria, onde o carro-chefe são frios artesanais, o tíquete médio por pessoa varia entre R$ 40 e R$ 50.   Já no Pecatore, especializado em frutos do mar, a conta fica um pouco mais cara, em função da matéria-prima. “Mas o custo-benefício é o mesmo”, afirma. Uma das pedidas é o espaguete ao molho de vôngole, de R$ 39, por pessoa.   O movimento de democratização chegou até às panelas do renomado chef Ivo Faria, que há um ano inaugurou o La Palma, na Pampulha. Segundo ele, também proprietário do sofisticado Vecchio Sogno, a nova casa tem uma proposta de acordo com a realidade da região.   “Restaurantes menores, com menos garçons, cardápios compactos e mobiliários mais informais são menos onerosos. No La Palma, cujo regime é o Simples, o imposto é menos da metade do Vecchio Sogno. É uma tendência que vem ganhando força, para atender a um importante nicho de mercado”, diz Ivo.   A diferença é nítida na conta. Enquanto no La Palma o prato com filé e guarnição à vontade sai por R$ 44,90, com direito a entrada, no estabelecimento luxuoso de Lourdes o preço sobe para R$ 64, com o couvert à parte. “Brincando, o cliente gasta R$ 100 no almoço”, diz. No jantar, a mesma massa com camarão pode custar R$ 78 ou R$ 98, dependendo do endereço.

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