O leve aumento da taxa de desemprego em setembro ante agosto, de 5,3% para 5,4% da População Economicamente Ativa (PEA), não representa inflexão na tendência de manutenção do mercado de trabalho aquecido, afirmou nesta quinta-feira o economista Flávio Combat, da Concórdia Corretora. "Ao contrário: pelos estímulos à economia introduzidos pelo governo, a perspectiva é de aumento das contratações", disse, lembrando que os incentivos aos investimentos privados são uma boa sinalização no médio prazo para o empresário, "que é quem toma as decisões de contratação ou desmobilização da mão de obra". "Há praticamente estabilidade no nível de emprego há três meses", observou.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de 5,4% é a menor para meses de setembro desde o início da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego, em 2002. O resultado veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções (de 5,0% a 5,5%), mas acima da mediana de 5,3%, que também era a previsão da Concórdia. O próprio IBGE afirma que a elevação da taxa ante o mês anterior não significou uma variação estatisticamente significativa, explicada sobretudo pelo aumento de pessoas à procura de trabalho.
Na expectativa de Combat, a taxa deve manter-se em torno do atual nível nos meses restantes de 2012. O movimento típico de avanço das contratações de fim de ano deve ser equilibrado pelo aumento da busca por emprego, afirmou.
Combat fez questão de destacar o comportamento da renda, que vem em trajetória crescente há meses. De acordo com o IBGE, a massa de renda real habitual dos ocupados no País subiu 0,9% em relação a agosto e 6,5% ante setembro de 2011. Já o rendimento médio real dos trabalhadores em setembro avançou 0,1% ante agosto e 4,3% ante igual mês do ano passado.
"A questão da renda é importante porque obviamente é fonte de pressão inflacionária. A renda vem crescendo persistentemente acima da inflação e a tendência deve continuar", avaliou.
Esse cenário, para ele, deve contribuir para que o Banco Central promova em 2013 um aperto na política monetária, não via taxa de juros, mas sim adotando medidas macroprudenciais de crédito e de câmbio. "O BC deve manter a Selic em 7,25% o ano todo de 2013", previu.
O economista concorda com avaliações de que o mercado de trabalho sentiu muito pouco os efeitos da crise internacional. Após um repique de alta na taxa de desemprego no começo do ano - em março chegou a 6,20% - por questões sazonais, o setor já teria começado a captar os impactos dos estímulos à atividade lançados pelo governo, incluindo os da distensão da política monetária. "De fato, o mercado de trabalho não reagiu tão fortemente à crise. Mas a questão não é só conjuntural", alertou.
De acordo com Combat, os entraves relacionados à rigidez da legislação trabalhista funcionam como um colchão e dificultam não somente a contratação como também a demissão de funcionários. "Demitir é caro. E tem também o custo de oportunidade. Em um momento em que atividade registra contração mas há estímulos chegando, o que se faz é tentar segurar a mão de obra, que não é acessível o tempo todo", explicou.
http://www.estadao.com.br