A compra da processadora de carnes Seara Brasil (Mafrig) pela gigante JBS, na semana passada, foi mais um lance na profusão de fusões e aquisições ocorridas nos últimos anos no País. O resultado desse processo de concentração de mercado, do qual a constituição multinacional brasileira de bebidas InBev é emblemática, é a consolidação de corporações capazes de competir globalmente, mas também de manipular oferta e preços de produtos por falta de concorrência.
A onda chegou ao país no início dos anos 90 e, a partir daí, mudou a cara de muitas companhias. Níveis de governança, eficiência e rentabilidade melhoraram exponencialmente. Benefícios, porém, que passam longe do bolso da clientela.
Com a limitação da concorrência, o consumidor, segundo especialistas, acaba pagando mais caro por mercadorias ou serviços.
“A concentração de mercado, pior até do que aumentar o preço, reduz a oferta de produtos e serviços, porque não há concorrente”, alerta o presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), Geraldo Tardin.
Para ele, um dos exemplos clássicos de que a concentração prejudica o consumidor é a aviação civil. “Sem concorrência, como acontece em diversos trechos, o custo para o passageiro vai lá pra cima”, diz.
Um ano após comprar a concorrente Webjet, a Gol anunciou o fechamento da companhia, conhecida por praticar preços populares, e demitiu mais de 800 funcionários. Em maio do ano passado, a Azul associou-se à Trip. Como as duas têm perfil regional, a união eliminou diversos destinos.
Oligopólios
Além das companhias aéreas, bancos, alimentos, bebidas, varejo, telefonia, montadoras, companhias aéreas e até educação engrossam a lista de setores onde os grandes compram e médios saem de cena.
“Poucas empresas para muitos clientes formam oligopólios e inflacionam preços”, diz Samy Dana, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Sobrou até para a conta do bar. O mercado de cervejas, após a criação da Ambev (mais tarde InBev) - empresa resultante da fusão das três principais marcas do país (Skol, Brahma e Antarctica) – teve a competitividade drasticamente reduzida. Desde então, segundo os analistas, a falta de um competidor forte no segmento vem salgando o preço da loira gelada.
Taxas
Juros altos e tarifas bancárias caras também são decorrentes das fusões. “A concentração do sistema financeiro não é boa para o cliente. Uma fusão entre instituições pode fazer com que as taxas do cartão de crédito sejam elevadas, assim como o valor da cesta”, diz o presidente do Ibedec.
Em 1995, existiam no Brasil 205 bancos. No final de 2012, restavam apenas 137, um encolhimento de 66%. “Algumas instituições fecharam as portas, mas o quadro mais enxuto deve-se, principalmente, às fusões e aquisições”, diz Alexandre Campos, analista da Austin Rating.
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