(Samuel Costa)
Com a tendência de preços mais baixos e de redução da demanda chinesa, os ativos de minério de ferro se desvalorizam e as minas à venda devem encalhar. Especialistas já apontam um preço de US$ 90 a tonelada do minério até 2018, o que acentua o processo de desvalorização das reservas minerais. Hoje, a tonelada oscila acima de US$ 110. Em 2010, o número de fusões e aquisições no setor mineral foi de 24 no Brasil e, em 2013, caiu para 18, conforme dados da consultoria KPMG. Com a perspectiva de um mercado menos demandante para os próximos anos, a indústria mineral já trabalha ajustando a oferta. Os novos projetos anunciados eram equivalentes a US$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre de 2012, e caíram para US$ 200 milhões no último trimestre do ano passado. Exceção feita às reservas de minério de alto teor e com soluções logísticas já existentes, os demais ativos não encontrarão compradores, apostam os especialistas. O ciclo de fusões e aquisições, iniciado com o boom do preço do minério a partir de 2008, ganhou força em 2010, quando as siderúrgicas marcaram posições no mercado de ferro, mas parece estar muito próximo do seu fim. “Existem muitas incertezas no mercado e não se sabe o tamanho da demanda da China. Grandes mineradoras querem se desfazer de ativos e as pequenas não têm condições de comprar. As siderúrgicas, que movimentaram as fusões e aquisições há um tempo, encerraram seus ciclos. Não vejo alterações nesse cenário em 2014”, diz o sócio da consultoria PwC e especialista em mineração, Ronaldo Valiño. Dificuldade de crédito Diante do aumento de risco do negócio, as empresas de menor porte, chamadas junior companies, encontram maior seletividade nas liberações de crédito, inviabilizando a aquisição de projetos menores dos quais as grandes mineradoras desejam se desfazer. Além de não estarem com apetite para novas aquisições, as companhias de maior porte revisam seus planos de ganho de capacidade no intuito de sintonizá-los com as novas perspectivas de crescimento da China, maior comprador de minério do mundo “A China crescia 11% ao ano, reduziu para 7,5%, deve fechar 2014 em 7% e depois se estabilizar próximo de 6%. O cenário de preço ainda não está claro, e todos estão com um pé atrás, o que faz com que as companhias deixem de lado projetos mais caros, de minério de menor qualidade”, diz o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi. Minas-Rio levanta dúvidas sobre retorno Há tempos não se vê um negócio de aquisição de minas envolvendo cifras elevadas no Brasil, e parte das últimas transações não teve o resultado esperado pelos compradores. O caso da venda do projeto Minas-Rio da MMX para a Anglo American é o que mais chama a atenção, tanto pelos valores como pelas dúvidas em relação ao retorno financeiro. Em 2007, a Anglo American iniciou as operações que culminariam na aquisição do projeto. A companhia pagou US$ 1,5 bilhão por 49% da mina, em Conceição do Mato Dentro. Em agosto de 2008, por mais US$ 5,5 bilhões, adquiriu o controle dos outros 51%, mais uma mina no Amapá, e ainda 49% do Porto de Açu, em construção no litoral fluminense. Para implantação do projeto, a Anglo American previu desembolsos de US$ 8,8 bilhões. No total, o projeto terá custo de US$ 15,8 bilhões. Empresas buscam parceiros para ampliar produção em Serra Azul A MMX, que avançou sobre pequenas mineradoras em Serra Azul, tradicional região mineradora no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e comprou a AVG, em 2007, hoje busca no mercado parceiros para seus planos de aumento de produção. A empresa de Eike Batista ainda negociou a compra da Minerita, outra mineradora de pequeno porte da região, mas não obteve sucesso após longas negociações. Apesar do movimento de desvalorização dos ativos, o caso da MMX se diferencia dos outros pela necessidade de o controlador, a EBX, se reformular após a crise das empresas de Eike. Enquanto durou o ciclo de aquisições, a região de Serra Azul foi palco de grandes transações. Usiminas, MMX e ArcelorMittal são exemplos de players do segmento que adquiriram lavras na região. Algumas empresas familiares como Comisa, Minerita e Itaminas sofreram forte assédio, chegaram a negociar a venda de seus ativos, mas resistiram. No caso da Itaminas, de propriedade do empresário Bernardo Paz, sua venda, por US$ 1,2 bilhão para uma estatal chinesa chegou a ser anunciada, mas não se concretizou. A London Mining, listada na Bolsa de Londres, comprou a Mineração Itatiaiuçu Ltda. Com a valorização do minério e do ativo, a empresa optou por vender a mina pouco depois de um ano, em um negócio de US$ 760 milhões. A compradora foi a ArcelorMittal. A MMX Mineração e Metálicos entrou na região de Serra Azul com a aquisição da AVG por US$ 224 milhões, em 2007. Por US$ 925 milhões, a Usiminas comprou as minas da J. Mendes em 2008. Em 2010, com investimentos da ordem de R$ 50,8 milhões, a MMX adquiriu a VGA. No caso das fusões, a chinesa Wuhan Iron and Steel (Wisco) injetou R$ 400 milhões para adquirir 21,5% da MMX. Por R$ 430 milhões a também chinesa Honbridge Holdings fechou acordo com a Votorantim Novos Negócios em um projeto de mineração no Norte de Minas. Superoferta de aço agrava ambiente adverso As adversidades do setor siderúrgico, que convive com excesso de oferta de aço no mundo, agravam a situação da mineração. A ociosidade dos altos fornos arrefeceu a demanda por minério. A estimativa é que, na América Latina, as usinas de aço ainda enfrentem um ambiente econômico desfavorável. Projeções da Alacero, entidade que reúne os maiores fabricantes de aço do continente, indicam que, em 2015, o consumo de aço dentro das sete principais economias da América Latina tenha taxas de crescimento abaixo da média mundial, também afetada pelo cada vez mais provável fim do “boom das commodities” e pelos altos níveis de incerteza dos mercados. Minas é o maior produtor nacional • O valor da produção mineral no Brasil apresentou queda de US$ 10 bilhões em três anos. Foram US$ 53 bilhões em 2011, frente a uma previsão de US$ 43 bilhões para 2014. • Os investimentos no setor também diminuiram. Saíram de US$ 63 bilhões no período de 2013-2017 para US$ 53 bilhões de 2014 a 2018. • Minas Gerais extrai mais de 160 milhões de toneladas por ano de minério de ferro em 250 municípios. • O Estado é responsável por aproximadamente 53% da produção brasileira de minerais metálicos e 29% de minérios em geral. • São mais de 300 minas em operação, sendo que o Estado está representado por 40 minas no ranking das 100 maiores do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).