Crescimento de Minas Gerais no próximo ano vai depender do PIB nacional

Bruno Moreno - Hoje em Dia
01/09/2014 às 07:18.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:01

(Arquivo)

O Brasil caminha para ter, em 2014, o pior resultado do Produto Interno Bruto (PIB) desde 2009, quando houve retração de 0,3%. De acordo com o boletim Focus, do Banco Central, publicado no dia 22, ou seja, antes da divulgação do PIB do segundo semestre (-0,6%), a expectativa é de que a taxa chegue a apenas 0,7% de crescimento. Diante desse cenário, os candidatos que vencerem a disputa aos governos Federal e Estadual terão que tomar medidas significativas para estimular o desenvolvimento econômico.


Há algumas opções que variam de acordo com a referência político-econômica dos partidos, mas especialistas consultados pelo Hoje em Dia, apesar de terem linhas ideológicas distintas, foram unânimes em afirmar que é fundamental retomar o crescimento do país em taxas próximas a 4%. Mas a forma como isso deve ser feito não é consenso.

Para o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Leão, o Brasil ainda tem necessidade de resgate de demandas sociais. “Para evoluir não dá para ficar crescendo na base de 1,5% ao ano. A gente não consegue avançar na melhoria da qualidade de vida da população. O crescimento mínimo do Brasil para atender aos benefícios sociais da população é algo em torno de 3,5% a 4% ao ano. Eu diria que o país tem condições para isso. É compatível com o PIB potencial do país sem gerar inflação”, argumenta.

Uma das propostas para alcançar esse índice é o aumento da taxa de investimento em relação ao PIB, que hoje está na casa dos 18%, para pelo menos 25%. Isso representaria mais dinheiro aplicado em obras de infraestrutura logística (portos, aeroportos, ferrovias e rodovias), na modernização do parque industrial, geração de energia, ou seja, em ações que aumentem a produtividade, assim como a oferta de produtos e serviços de forma sustentada e perene.

O coordenador do curso de Economia do Ibmec e doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, Márcio Salvato, argumenta que o Estado não tem mais condições de fazer investimentos sozinho.

“Hoje, o Estado nosso gasta muito, gasta mal, arrecada muito, mas o nível de investimento é baixo. É preciso gastar menos no custeio do Estado para sobrar mais para investimentos. Isso tem que ser feito em conjunto com a iniciativa privada.

Já o professor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mário Rodarte, concorda que é preciso aumentar os investimentos, mas faz uma ressalva.

“Houve tempos em que o investimento era num nível interessante e isso não estava gerando muito emprego. Os setores financeiros estavam crescendo. Realmente, recompor o percentual de investimento é um indicador muito interessante, e provavelmente isso gerará mais crescimento mais para a frente. Mas em quais setores isso está? Onde esse investimento incide? Sou crítico a uma economia financeirizada. Muitas vezes a gente fala do crescimento como uma função, mas o que queremos é o aumento do bem estar social”, argumenta.

Exportações impactam no desempenho da economia brasileira

O aumento das exportações entre os países emergentes e os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além do fomento ao mercado interno, são fundamentais para a retomada do crescimento econômico do país. Essa é a opinião do professor do Cedeplar/UFMG, Mário Rodarte.

Para ele, o mercado interno ainda tem muito para crescer. “O estímulo de consumo via políticas como o Bolsa Família e o aumento do salário mínimo ainda garante um lastro para uma manutenção do crescimento. Para o mercado externo, é preciso um cambio mais concorrente, desvalorizando o real, no nível interessante para que haja competitividade entre setores importantes”, argumenta.

O economista acredita que, se o PIB voltar a crescer, não será necessário adotar medidas de austeridade, como o corte de gastos do governo. “Muitas vezes, medidas de austeridade fazem com que o mercado se retraia”, explica.

Já o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, avalia que não há como escapar das medidas de austeridade. “É inevitável. Primeiro tem que cortar gastos, para depois poder cortar a taxa de juros. Isso implica que será preciso pagar um preço em 2015 para arrumar a casa”, afirma.

Competitividade

Salvato destaca que outra questão importante para a retomada do crescimento é o aumento da competitividade do país. “Temos problemas de custos de produção que passa desde a questão de tributos até o custo de mão de obra com baixa produtividade. São necessárias reformas estruturais. Uma estrutura tributária que seja mais simples, que não seja em cascata, acabar com a guerra fiscal entre estados”, aponta.

Autonomia do BC terá que ser enfrentada

Uma das grande polêmicas em torno da condução da Economia no Brasil é se o Banco Central (BC) deve ou não ser autônomo. Para o coordenador do curso de Economia do Ibmec e doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, Márcio Salvato, o BC deve ser independente.

“É assim que funciona na maioria dos países. É preciso ter metas. Hoje ele pode mudar as metas ou demitir o presidente do Banco Central. É um órgão que não pode ser político, tem que ser técnico”, argumenta.

Entretanto, o professor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mário Rodarte, acredita que é necessário ter “uma revisão da política de metas da inflação. A política (monetária) não pode ser cega, tem que ser inteligente no sentido de detectar que inflação está sendo gerada e utilizar os melhores meios para contorná-las”, afirma.

Em contraposição, o economista-chefe da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Guilherme Leão, também defende a autonomia do BC, assim como Salvato.

“Só assim você vai ter uma regulação mais estável, profissionalizada. Portanto, o mercado vai ter clareza do que tem que acontecer em cada área. Assim, há segurança para você investir, não se quebra regas no meio do caminho”, enfatiza.

Dentre os principais candidatos ao Palácio do Planalto, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) são favoráveis à autonomia do BC. Já Dilma Rousseff (PT) é a favor de uma regulação mínima do mercado, por parte do poder executivo.  

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