Crise fecha 15 concessionárias de veículos em BH

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
21/07/2015 às 06:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:00

Os efeitos da crise econômica estacionaram nos pátios dos varejistas. Com crédito escasso e receio de gastar e perder o emprego, o consumidor tem adiado o sonho de trocar de carro. Segundo o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), Camilo Lucian, a comercialização de automóveis novos e usados encolheu entre 15%e 16% no primeiro semestre deste ano, na comparação com os seis primeiros meses de 2014.

A marcha à ré nas vendas já provocou o fechamento de 15 concessionárias somente em Belo Horizonte. No país, 300 estabelecimentos encerraram as atividades. E se o mercado não acelerar, a estimativa é que 1.000 lojas deixem de funcionar até o final de 2015.

A reboque do recuo nas vendas, os financiamentos de veículos novos e usados em Minas também despencaram de janeiro a junho deste ano, ante igual período de 2015. No semestre, foram 269.289 contratos, uma queda de 12,5%. Os dados do Estado consideram automóveis leves, motos e pesados. O levantamento, passado com exclusividade para o Hoje em Dia, é da Unidade de Financiamentos da Cetip, que opera o maior banco de dados privado de informações sobre financiamentos de veículos do país, o Sistema Nacional de Gravames (SNG).

“O número de financiamentos diminuiu porque as vendas caíram. A falta de confiança, o medo de perder o emprego e de fazer dívidas e a escassez de crédito impactaram em cheio o setor”, afirma o presidente do Sincodiv-MG.

Com a falta de clientes, até junho, segundo Lucian, pelo menos 12 mil funcionários de concessionárias foram demitidos em todo o país. “E se a situação continuar ruim no segundo semestre, como tudo leva a crer que sim, poderemos encerrar o ano com 40 mil demissões”, afirma.

Proprietário da Activa Multimarcas, o empresário Fabrício Quintão culpa as altas taxas de juros pela freada nos empréstimos. “Bancos e financeiras não estão aliviando. E as exigências para contratação de crédito estão cada vez maiores. Só para a abertura de cadastro chegam a cobrar R$ 1.500. Então sugiro os clientes que procurem o gerente do próprio banco para tentar negociar uma condição melhor”, diz.

Outra estratégia para driblar a crise, que reduziu as vendas em 20%, é mexer no preço e diminuir a margem de lucro.

Na Space Multimarcas, a procura também caiu 20%. De acordo com o proprietário Leonardo Maciel, a crise de confiança na economia brasileira e as taxas salgados têm afastado os motoristas. “Anunciamos em vários sites, pagamos bem na troca do cliente e encurtamos a margem de lucro. Não tem outro jeito”, afirma o empresário.

Para o dono da Bless Automotores, Alberto Marques, o maior problema do segmento é o encarecimento e a dificuldade de conseguir crédito.

Taxas de juros praticadas no mercado são as mais altas desde dezembro de 2011, diz Anefac

A elevação dos juros é um sinal amarelo para motoristas que sonham com um carro mais novo na garagem. Cálculos do diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, mostram que a taxa média cobrada em financiamentos de automóveis subiu 2,46% em maio, na comparação com abril. Com juros de 2,18% ao mês e 29,54% ao ano, as taxas são as maiores desde dezembro de 2011.

“Os bancos subiram os juros porque o custo de captação de recurso também aumentou. Além disso, houve crescimento do risco de inadimplência. O conjunto de inflação alta, impostos mais caros e desemprego resultam no aumento da preocupação com o calote”, diz Oliveira.

O supervisor escolar André Henrique Marques dirige um Fox 2010, mas o desejo de consumo é um Gol ou um CrossFox mais novo. O problema é fazer a prestação caber no bolso. “Estou assustado com as taxas de juros. E a burocracia para pegar um financiamento é imensa. Por isso as lojas estão tão vazias”, reparou.

Cenário ruim

E não há sinais no horizonte de que o comércio de carros voltará a acelerar. Com a piora da crise política e a dificuldade em se aprovar o ajuste fiscal na economia brasileira, a retomada das vendas de veículos novos no Brasil deve ficar somente para o segundo trimestre de 2016. Pelo menos é essa a previsão do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan.

“No início de junho, quando fizemos revisão de nossas previsões, colocamos claramente que poderíamos ter um início de retomada no último trimestre deste ano, mas, com o adiamento da questão do ajuste fiscal, já podemos pensar em uma inflexão da curva no segundo trimestre do próximo ano”, afirmou Moan, durante seminário em São Paulo.

Na avaliação dele, a crise política deve atrasar a aprovação das medidas do ajuste no Congresso, o que leva o setor a uma crise um pouco mais prolongada e a um volume de vendas baixíssimo por mais tempo do que se imaginava.

Para o segundo semestre de 2015, o executivo estimou que o setor deve apresentar um desempenho estável em relação à primeira metade do ano. Ele previu que as medidas de ajuste nos estoques - até junho, equivalentes a 47 dias de vendas - devem durar até setembro. “Não vemos cenário de queda mais acentuada do que já tivemos. Diria muito pelo contrário: podemos até ter alguns indicadores positivos, além da estabilidade com viés de alta”, disse.

Moan ainda avaliou que os dados ruins da indústria automotiva brasileira refletem o “estado de espírito” não só do setor, mas da economia como um todo, inclusive de áreas que, em tese, não deveriam sentir, como o agronegócio.

“A expectativa é de retração no PIB e inflação de dois dígitos. Quando o mercado sinaliza com notícias desfavoráveis, o consumidor perde a confiança para ir às compras” Camilo Lucian - presidente do Sincodiv-mg

No segmento de caminhões, o número de emplacamentos caiu 50% em junho deste ano, ante igual mês em 2014


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