A crise na Petrobras já afeta o mercado de trabalho no Brasil. Na passagem de dezembro para janeiro, os problemas atravessados pela estatal tiveram influência direta ou indireta em cerca de 10% de todos os empregos formais perdidos no Brasil inteiro, segundo o economista Mauro Osorio, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Dois municípios fluminenses que têm suas economias extremamente dependentes da petroleira contabilizaram um corte de 8.353 vagas com carteira assinada em janeiro, mostra levantamento do professor, feito com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Em Macaé, 1.288 postos de trabalho formais foram extintos. Em Itaboraí, 7.065 trabalhadores foram demitidos. O montante equivale a mais de 20% das 40.658 vagas fechadas no Estado do Rio do período. No Brasil, foram eliminados 81.774 postos de trabalho.
"Em Macaé, houve impacto de diversas formas, por conta da influência da Petrobras na economia local. Em Itaboraí, é demissão no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) mesmo", disse Osorio.
O professor lembra que, além das dispensas de trabalhadores terceirizados que atuavam nas obras do Comperj, outras atividades da região têm estreita ligação com os investimentos e trânsito de funcionários da petroleira nos municípios atingidos, como serviços, construção e comércio.
"O impacto da crise na Petrobras sobre o mercado de trabalho vai ser muito forte, nem começou ainda. Porque esse processo vai resultar ainda em paralisação generalizada de obras de infraestrutura, que são todas tocadas pelas empreiteiras que estão nas investigações da Lava Jato (operação da Polícia Federal que apura denúncias de corrupção na Petrobras)", previu José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos e professor da PUC-Rio.
Camargo vê impactos decorrentes das dificuldades dessas empreiteiras em concluir obras previstas em licitações não só da Petrobras, mas também de projetos de infraestrutura e empreendimentos para eventos como a Olimpíada de 2016, no Rio. "O Estado do Rio vai ser particularmente afetado por essa crise", alertou o economista da Opus.
Nesta quarta-feira, 4, milhares de trabalhadores que atuam no setor naval são esperados em um protesto motivado pelo receio de que o plano de desinvestimentos anunciado pela Petrobras na segunda-feira, 2, resulte em mais demissões dentro da categoria. A passeata - que se estenderá de Niterói, na região metropolitana, até a sede da Petrobras, no centro do Rio - é organizada por sindicatos de metalúrgicos que representam trabalhadores de 11 empresas fornecedoras da petroleira na construção de navios e plataformas. Os manifestantes temem que a Transpetro seja incluída nas operações de venda de ativos e que o projeto de construção de navios seja paralisado, desempregando os trabalhadores da indústria naval.
Por enquanto, a região metropolitana do Rio de Janeiro ainda apresenta os melhores resultados para o mercado de trabalho entre as seis regiões investigadas pela Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego ficou em 3,6% em janeiro (contra 5,3% na média nacional), mesmo resultado verificado em janeiro do ano anterior. No entanto, o desempenho foi consequência da saída de pessoas do mercado de trabalho, e não de um aumento expressivo no número de contratações: 114 mil indivíduos migraram para a inatividade, enquanto a região criou apenas 12 mil vagas no período de um ano.