A falta de competitividade do etanol em relação à gasolina, aliada ao alto endividamento das usinas sucroalcooleiras, fragilizou o setor de açúcar e álcool em Minas Gerais. Três usinas já em recuperação judicial correm o risco de fechar as portas, com a dispensa de 4 mil trabalhadores. O setor, que gera 80 mil empregos diretos em 40 usinas em funcionamento no Estado, registrou nas últimas quatro safras o fim das operações de outras seis usinas, com eliminação de 6 mil postos de trabalho.
A dívida setorial é equivalente ao faturamento total de uma safra, e um plano de refinanciamento está em elaboração para ser apresentado ao governo Federal.
As informações são da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), que ontem divulgou a previsão da safra 2014/2015, com queda de 3% na moagem de cana-de-açúcar.
Segundo o presidente da associação, Mário Campos, a prolongada crise do setor, motivada sobretudo pela contenção do preço da gasolina para segurar a inflação, se agravou nos últimos anos, com a cotação do açúcar atingindo o menor patamar das últimas quatro safras.
“O etanol anidro é o único aditivo do mercado que é mais barato do que o produto final. O etanol hidratado não tem preço competitivo em relação à gasolina desde julho de 2010, e ainda tem a situação do açúcar. Sem incentivo do governo, não há saída”, disse Campos ontem, ao divulgar a previsão de safra deste ano.
Posto de combustível em BH: entre 2006 e 2014, o preço da gasolina subiu 16%, enquanto
a inflação foi de 54% (Frederico Haikal/Hoje em Dia)
Entre as medidas defendidas pelo setor estão o aumento da mistura de álcool anidro na gasolina – de 25% passaria para 27,5% –, a renegociação das dívidas e a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente no etanol, que em Minas Gerais é de 19%. “Como a produção estadual não é consumida integralmente aqui, temos que vender em outros Estados, e onde há mercado é São Paulo. Porém, lá o ICMS é de 12%. Acabamos vendendo com muito deságio”, afirmou Campos.
O presidente da Siamig observou que o preço da gasolina entre 2006 e 2014 teve alta de 16%, enquanto a inflação no mesmo intervalo registrou elevação de 54%. “Há um claro incentivo à gasolina. Hoje, a Petrobras vende gasolina R$ 0,20 mais barata do que importa. Assim não há como o etanol ter competitividade”, afirmou.
Para ser vantajoso ao consumidor, o etanol deve custar até 70% do preço da gasolina. Hoje, em Minas Gerais, a relação é de 77% e, em Belo Horizonte, 79%.
Com início da safra, o preço do etanol caiu R$ 0,20 ao produtor. A expectativa é a de que esta redução chegue às bombas nas próximas semanas.
Produção de etanol anidro será maior do que a de hidratado
Sem mercado e com preços baixos, a produção do álcool hidratado será 17% menor em Minas Gerais neste ano, com um total de 1,252 milhão de metros cúbicos. A retração vai resultar em uma produção de etanol anidro (que é misturado à gasolina) superior à de hidratado pela primeira vez na história. Será de 1,279 milhão de metros cúbicos, 9% acima da safra anterior.
A moagem de cana vai totalizar 59,5 milhões de toneladas, abaixo das 61,2 milhões de toneladas da safra 2013/2014, a maior já registrada.
Os dados são da estimativa de safra da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) e também revelam que, em virtude da seca neste ano, a produtividade dos canaviais caiu de 79 toneladas por hectare para 70 toneladas por hectare.
A área de cana não destinada à moagem, aquela onde ocorre a renovação dos canaviais, também diminuiu para compensar a quebra de safra. “O problema disso veremos mais à frente, uma vez que os canaviais vão envelhecer e a produtividade será menor”, afirmou o presidente da Siamig, Mário Campos.
Anidro
O baixo consumo de etanol em Minas Gerais explica, em parte, a produção de anidro superior à de hidratado. Em 2009, para cada 100 litros de gasolina consumidos no Estado, 40 litros de álcool hidratado eram vendidos. Em 2013, essa relação ficou ainda mais desfavorável para o álcool e são comercializados 15 litros do biocombustível para cada 100 litros de gasolina.
“No mercado anidro temos 25%, que é a mistura. No mercado do hidratado, somos 100%. A vantagem do anidro é que a produção é toda contratada antes da safra, o que dá segurança”, disse Campos.