Trigo mais caro

Custo da guerra chega à mesa: pãozinho de sal já está 25% mais caro em BH

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
Publicado em 15/03/2022 às 06:30.
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A guerra entre Rússia e Ucrânia, agravada pela alta recente no preço dos combustíveis, já chegou à mesa dos brasileiros, Em Belo Horizonte, o pãozinho de sal está 25% mais caro. No sacolão, verduras e legumes subiram até 152% desde janeiro.

O aumento do pãozinho é decorrente da queda na oferta de trigo, produto dos mais importantes na balança comercial dos dois países em guerra, somada ao impacto do frete mais caro por conta do aumento nos combustíveis.

Desde que a Petrobras anunciou o aumento, na quinta-feira passada (10), diversos setores da economia entraram em estado de tensão. Isso porque, nas bombas, o repasse foi imediato, mas, na prestação de produtos e serviços, há cautela para subir os preços, que já estavam em escalada inflacionária devido à queda de matéria prima global provocada pela guerra entre Ucrânia e Rússia.

Segundo Winícius Dantas, presidente do SIP (Sindicato das Indústrias de Panificação) e da Amipão (Associação Mineira de Indústria de Panificação (Amip), o segmento de panificação tem sofrido duplamente com a dificuldade para importar e a logística mais cara. “As padarias vão ter que fazer um repasse mínimo de 25% no pão, respeitando as características regionais e a distância do fornecedor, que variam. Estimamos que o frete vai ser responsável por 5% e a guerra, por 20% do reajuste”, afirma. 

A previsão da alta acontece num cenário já de elevação. Última pesquisa do Mercado Mineiro, realizada no final de fevereiro, apontava que o quilo do pão de sal subiu acima da inflação, passando de R$14,56 para R$16,42, um aumento de 12,79%. O quilo do pão doce passou de R$16,59 para R$18,96, alta de 14%.
Mesmo assim, segundo Winícius, o repasse de 25% não é o suficiente para fechar as contas. A estimativa é que pressão a médio e longo prazo dessa escalada faça com que 40% do setor em Minas tenha muita dificuldade de permanecer com as portas abertas em 2022. 

Mais aumento

Os derivados do trigo não são os únicos que vêm pesando mais no bolso do brasileiro. De janeiro a março deste ano, segundo pesquisa do site especializado Mercado Mineiro, o quilo de cenoura passou de R$5,96 para R$10,95 (+ 83%). A abóbora subiu de R$2,91 para R$6,99 (+140%) e o repolho subiu de R$2,51 para R$6,34 (+152%). 

De acordo com o chefe da seção de informação de mercado do CeasaMinas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S.A.) Ricardo Martins, os preços salgados são resultados dos estragos das chuvas e ainda não contam com o repasse dos combustíveis. “É difícil calcular esse reajuste, neste momento, porque muitos produtos estão num patamar muito elevado”, afirma. 

Ricardo afirma que os preços só caem quando a oferta se normalizar. “O prejuízo de grande parte das lavouras foi muito grande. Essa produção começa a se estabilizar nas próximas colheitas, entre 70 dias e 120 dias. Até que isso ocorra, a tendência é de manutenção de preços altos”, diz.

Dono de duas padarias na avenida Silva Lobo, no bairro Nova Granada, Marcio Caetano tem amargado com aumento de todos os lados e absorvido metade de todos os repasses para não assustar o consumidor. “Mesmo com o trigo 12% mais caro e o óleo de soja 25%, tenho dificuldade para encontrar”, diz.

Conforme ele, os reajustes semanais fizeram com que a circulação de pessoas, neste mês, caísse 10% e o ticket médio gasto, 15%. Lá, a alta simultânea dos ingredientes de panificação e hortifruti também modificou o cardápio: o bolo de cenoura foi temporariamente cortado.

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