Delegados da PF criaram ‘balcão de negócios’, diz Procuradoria

Estadão Conteúdo
Publicado em 15/07/2016 às 06:48.Atualizado em 16/11/2021 às 04:18.

O Ministério Público Federal informou nesta quinta-feira (14) que três delegados federais, presos na Operação Inversão, ‘transformaram a Delegacia de Combate a Crimes Previdenciários (Deleprev) em um balcão de negócios e de impunidade’. De acordo com a Procuradoria, os delegados conduziam investigações para exigir propina. Um alvo da Deleprev teria feito pagamentos regulares.

Os delegados da PF Ulisses Francisco Vieira Mendes, ex-chefe da Deleprev, hoje aposentado, Rodrigo Cláudio de Gouvea Leão e Carlos Bastos Valbão, da mesma delegacia, foram presos pela Inversão.

Na sexta-feira (15) será realizada no Fórum Criminal Federal de São Paulo a audiência de custódia com os investigados presos na operação.

Segundo a Procuradoria da República, os policiais teriam cobrado propina de até R$ 800 mil para barrar operação da PF contra fraudadores da Previdência.

"Pesam contra eles várias provas de sua participação, inclusive obtidas com interceptação ambiental e ações realizadas em seus gabinetes com autorização judicial", aponta a Procuradoria.

Para os procuradores da República responsáveis pelo caso, "os investigados transformaram a Deleprev, que deveria atuar na apuração de delitos previdenciários - que tanto sangram os cofres da União - num balcão de negócios e de impunidade".

A Inversão é uma operação conjunta do Ministério Público Federal e do Setor de Contra-Inteligência da Polícia Federal.

Além da prisão dos três delegados, a Polícia Federal cumpriu outros 10 mandados de prisão preventiva, referentes a seis intermediários do esquema e a quatro investigados que teriam pago propina a policiais, entre 2010 e 2015 para evitar investigações de crimes contra a Previdência Social em que eram investigados.

A Operação Inversão foi desencadeada por ordem da 9ª Vara Federal de São Paulo.

O Ministério Público Federal sustenta que um dos presos, Marivaldo Bispo dos Reis, o Miro, dono de uma consultoria previdenciária, teria pago de R$ 500 mil a 800 mil, segundo relatos que constam dos autos, para paralisar uma operação policial que investigava sua atuação, que envolvia fraudes em dezenas de agências do INSS em São Paulo e que movimentaria em torno de R$ 50 mil diariamente. Quatro pessoas ligadas a Miro foram alvo de condução coercitiva decretada pela Justiça.

A investigação começou em agosto de 2015, quando uma advogada investigada na Operação Trânsito foi procurada por pessoas que falavam em nome de policiais dizendo que se ela pagasse uma propina de R$ 15 mil poderia se livrar da investigação. Pedido este que depois subiu para R$ 150 mil.

"Ela e o marido procuraram a Corregedoria da PF em São Paulo e denunciaram o esquema, trazendo cada vez mais provas do envolvimento de policiais, que passaram a ser investigados em ações de contra-inteligência policial", informou a Procuradoria da República.

Até conversas de WhatsApp entre os intermediários e a vítima de extorsão foram entregues à corregedoria, segundo a Procuradoria.

Além dos delegados, foram presos os intermediários Moisés Dias Morgado, Dorival Donizete Correa, Maria Lúcia Ribeiro, José Carlos da Rocha e Manoel Carlos da Silva. O Ministério Público Federal informou que Cláudio Ademir Mariano, advogado de Miro, está foragido.

Outros três investigados que teriam pago propina aos policiais, além de Miro, tiveram a prisão decretada: Evando Avelino, Miguel Minarro Pinar e Kleber Mejoardo Gonzaga.

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