Dívida interna é o novo desafio, diz Antônio Pádua

Bruno Porto - Hoje em Dia
23/03/2014 às 09:30.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:48

(André Brant)

O economista Antônio de Pádua Ubirajara e Silva, novo presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), destoa em sua análise do modelo econômico atual da crítica de base ortodoxa majoritária nos veículos de comunicação. Ele defende os programas sociais e minimiza o “choro” de setores empresariais. Em sua gestão, a prioridade será o apoio à atualização da Lei 1.411/1951, que regulamenta o exercício da profissão de economista.   Qual a avaliação do senhor sobre o desempenho da economia brasileira, que registrou avanço de 2,3% em 2013? O Brasil pode crescer mais, porém temos uma estrutura de produção que traz em si facilidade de picos inflacionários. O Brasil tem que ter muita cautela para não abrir espaço para o crescimento da inflação, uma vez que crescer a economia implica crescer a demanda. E demanda cresce com muito mais facilidade do que a oferta. É complicado fazer a oferta crescer 5%, mas a demanda cresce rapidinho.   Como crescer sem inflação? De imediato, controlando a demanda com a política de juros, que é perversa, mas é eficiente. Não é à toa que o Banco Central tem aumentado a Selic. Não é uma solução que agrade a todos, especialmente aos endividados, mas é um caminho razoável. É, sim, uma solução simplória. O melhor caminho seria estimular a oferta, que depende de investimentos de longo prazo.    O PIB de Minas cresceu 0,5% no ano passado. Por que a disparidade em relação ao crescimento do PIB do país? O caso de Minas Gerais está muito ligado à queda de preços das commodities, pois é um Estado que se industrializou pouco. O resultado disso é que o menor crescimento da China e as crises europeia e norte-americana impactaram mais Minas Gerais. Contraíram a demanda e, como os preços das commodities não são formados em seus países de origem, a queda da demanda internacional influenciou imediatamente o preço. Em produtos industrializados, o preço é formado por quem vende. Nessa relação, que chamamos de deterioração dos termos de troca, em momentos de crise, quem vive de produto de menor valor agregado perde mesmo.   O senhor vê alguma coisa consistente em Minas Gerais no sentido de diversificação da economia? Os parques tecnológicos, sobretudo o projeto do BH-Tec, que é muito bacana. Quem está ali é gente de alto nível. Nessa turma não tem gente mais ou menos. Isso tem que se multiplicar porque tem sido feito de forma correta, ligado a uma universidade, para dar à universidade menos perfil acadêmico e mais perfil de mercado. Isso soa horrível, parece liberal demais, mas a verdade é que a nossa universidade ficou anos formando pessoas para falarem uns para os outros. A sociedade ficou de fora.   Do ponto de vista de crescimento econômico, 2014 será melhor ou pior? Não será muito diferente, provavelmente um pouco melhor, com a crise americana arrefecendo e os Estados Unidos comprando mais do Brasil. Mas ainda não teremos um PIB muito grande porque a Europa está mal. E a China deve segurar a economia porque sacou que agora deve investir no mercado interno. O PIB do Brasil deve crescer na mesma proporção ou um pouco mais, perto de 3%. Para uma população que cresce 1,4% ao ano, é um ganho importante. Minas sofre muito com a nova postura da China, que hoje é um verdadeiro buraco negro engolindo commodities e deve crescer menos.   O Brasil deu um passo importante com a estabilização da economia. Demos outro passo, trazendo mais pessoas para o mercado consumidor. Qual o próximo? Enfrentar o gigantismo da dívida interna. A (dívida) externa está controlada, em torno de US$ 70 bilhões. A dívida interna é de mais de US$ 1 trilhão e enfrentar isso é importante para que o Estado tenha mais capacidade de investimento, seja na saúde, educação ou segurança. Esse investimento vem ficando em segundo plano porque estamos a todo momento renegociando as nossas dívidas. Acho que esse é o desafio.   E como que se enfrenta isso? Quem tiver uma resposta definitiva será o próximo Nobel de Economia. Eu não tenho essa resposta, mas passa pela diminuição dos gastos públicos sem deixar de lado os programas sociais. São eles que têm sustentado o crescimento da economia. 

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