O brasileiro nunca deveu tanto. Em março, o endividamento com o sistema financeiro nacional bateu novo recorde, atingindo 43,99% da renda anual das famílias, muito acima do limite de 30% recomendado pelos economistas. Em fevereiro, até então o patamar mais alto, o índice estava em 43,79%. Em 2005, data de início do levantamento do Banco Central, não chegava a 20%.
Segundo o BC, parte da escalada do endividamento dos brasileiros nos últimos anos está diretamente ligada ao crédito habitacional.
Para a instituição, muitas famílias estão substituindo o pagamento do aluguel, que não entra na estatística sobre dívidas, pelo financiamento de um imóvel. Tanto que, se excluídos os débitos com a compra da casa própria, o comprometimento da renda cai para 30,48%, em março. O número representa uma leve queda em relação ao mês anterior (30,54%) e segue abaixo do pico atingido em agosto do ano passado, de 31,5%.
“Existem dois tipos de dívidas. Aquelas referentes a cheque especial e rotativo do cartão de crédito, por exemplo, são altamente nocivas. Já o financiamento imobiliário, que consiste na aquisição de um patrimônio, pode ser considerado um endividamento saudável”, diz o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
Segundo o economista, normalmente o crédito imobiliário funciona como um investimento a longo prazo. E os juros são menores, em torno de 9% ao ano.
“Ficar livre do aluguel e financiar a casa significa agregar um bem e não jogar dinheiro fora”, analisa Miguel, para quem os dados da pesquisa do BC são um bom sinal. “O que não pode é se atolar em dívidas para coisas efêmeras, sem real necessidade”, explica.
A supervisora de condomínio Samara Dayse Silva Santos cumpre na prática a dica dos economistas. Nunca compromete mais de 30% da renda em dívidas e, atualmente, prioriza a compra de materiais de construção para a casa nova. Cimento, areia, telha, tijolo. Tudo é pago em quatro ou cinco vezes no cartão de crédito, que ela jamais deixa atrasar para não pagar taxas exorbitantes e perder o controle das finanças. “Meu sonho é ver meu imóvel pronto”, afirma.