SÃO PAULO - Mesmo após duas intervenções do Banco Central, o dólar comercial -utilizado no comércio exterior- fechou o dia em alta de 2,38% em relação ao real, cotado em R$ 2,451 na venda -maior valor desde 9 de dezembro de 2008, quando ficou em R$ 2,471. O dólar à vista -referência para as negociações no mercado financeiro- subiu 1,17% em relação ao real, encerrando o dia cotado em R$ 2,428 na venda, maior valor desde 3 de março de 2009, quando ficou em R$ 2,433.
O movimento da moeda foi influenciado pela ata da última reunião do Federal Reserve, banco central americano, que mostrou sinais de que a autoridade pode reduzir seu programa de estímulo econômico em breve. Essa percepção aumentou após o Fed ter revelado que avalia a criação de um novo mecanismo para reduzir os recursos do sistema bancário nos EUA e manter as taxas de juros de curto prazo em nível confortável quando começar a diminuir o incentivo econômico naquele país.
Na Bolsa, o Ibovespa -principal índice do mercado nacional- registrou instabilidade ao longo do dia e fechou com leve baixa de 0,2%, a 50.405 pontos. Foi a segunda queda seguida do índice.
A ata divulgada nesta tarde de quarta-feira (21) mostrou que a maioria dos 12 integrantes do Fomc (comitê de política monetária dos EUA) concordaram que uma mudança no estímulo ainda não é apropriada. Mesmo assim, a autoridade informou sobre o potencial de criar uma "linha com taxa prefixada para recompras reversas overnight de títulos" --transação em que o Fed vende um título do Tesouro dos EUA para um operador primário do país ou para um grande fundo, e o recompra no dia seguinte. A operação retira temporariamente dinheiro do sistema bancário, enquanto o operador ou o fundo recebe os juros sobre a transação.
"Isso aponta para a retirada dos estímulos nos EUA em um futuro próximo. Não ficou claro se vai acontecer em setembro ou não, mas há praticamente um consenso de apoio ao cronograma da autoridade, que pretende encerrar o seu programa de recompra mensal de títulos públicos até meados de 2014", diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora.
Para injetar recursos na economia, o Fed recompra mensalmente, desde 2009, US$ 85 bilhões em títulos do governo -como parte do dinheiro vira investimentos em outros países, inclusive o Brasil, a possibilidade de um corte no incentivo já em setembro, quando haverá uma nova reunião do Fed, desagrada o mercado.
Além disso, investidores preveem que, encerrada a recompra de títulos, o próximo passo será o aumento do juro dos EUA, hoje quase zero. Juro mais alto deixa os títulos do Tesouro americano, remunerados pela taxa, mais atraentes que aplicações de maior risco, como Bolsas, especialmente de emergentes. O analista Paulo Brügger, da Leme Investimentos, enfatiza que, além da preocupação com o Fed retirando os estímulos e enxugando o volume de dólares do mercado global, o mercado também sabe que há uma melhora da economia dos EUA, o que naturalmente atrai investimentos de médio e longo prazos que estavam em outros mercados, como os emergentes.
"Em ambos os casos, perdemos investimento externo", acrescenta. "Porém, no caso da Bolsa, uma alta do dólar acaba ajudando algumas importantes empresas exportadoras, o que ajudou o Ibovespa a manter alta desde a semana passada", completa.
Intervenção O Banco Central voltou a intervir no mercado de câmbio hoje, realizando dois leilões de swap cambial tradicionais, que equivalem a venda de dólares no mercado futuro.
A primeira operação, que já havia sido anunciada pela autoridade de terça-feira (20), equivale a rolagem de 20 mil contratos de swap com vencimento em 1º de abril de 2014, os quais foram vendidos por US$ 987,9 milhões. Já a segunda operação ocorreu por volta de 16h20, quando o dólar comercial ultrapassou R$ 2,45. Foram vendidos 35,6 mil contratos dos 40 mil oferecidos por US$ 1,774 bilhão. Os papéis têm vencimento em 3 de fevereiro de 2014.
Na última terça-feira (20), o BC já havia promovido um leilão de linha de crédito -que foi muito utilizado para conter a alta do dólar quando estourou a crise global de 2008- e dois leilões de swap tradicionais. Para operadores, o BC deve continuar a fornecer liquidez ao mercado e ofertar lotes maiores de swap, numa estratégia agressiva para conter possíveis ações especulativas que dão gás à alta do dólar e colocam em risco a inflação. Nesta tarde, o BC anunciou que fará na quinta-feira (22), um leilão de swap cambial tradicional e mais dois leilões de linha de crédito, totalizando até US$ 4 bilhões.