Em função da alta do dólar, exportar requer cautela e tem custos

Filipe Oliveira - Folhapress
Publicado em 25/08/2013 às 19:59.Atualizado em 20/11/2021 às 21:18.

SÃO PAULO - Apesar de o real menos valorizado favorecer a competitividade de produtos nacionais no mercado externo, a decisão de começar a exportar deve ser pensada com cautela. Mauricio Golfette, consultor do Sebrae-SP, recomenda fazer planejamento de ao menos seis meses antes de iniciar as vendas externas.

Além disso, os custos são elevados. "Um departamento de exportação para uma pequena empresa custa, no mínimo, R$ 300 mil por ano, sem contar os gastos com viagens", afirma Roberto Ticoulat, presidente da Conselho das Empresas Comerciais Exportadoras e Importadoras (Ceciex).

Para o desenvolvimento de produtos e diagnósticos do mercado, os consultores recomendam buscar o auxílio de entidades como a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). O Sebrae também oferece ferramentas de diagnóstico da empresa e prospecção do mercado externo.

Serviço especializado

Segundo Roberto Ticoulat, empresas especializadas em exportação podem ser outra alternativa. Elas ajudam no cumprimento de obrigações burocráticas e comercialização dos produtos no exterior.
Em contrapartida, cobram taxas que, em geral, são em torno de 5% das vendas, reduzindo os ganhos para o exportador, segundo informa o especialista.
    
Empresas já calculam aumento de custos

O empresário José Faria, 46, da empresa Nanotech do Brasil, fabricante de revestimentos para isolamento térmico e acústico, está de olho na cotação do dólar diariamente.

Por comprar insumos importados para a produção e ter clientes fora do Brasil, as variações na moeda, que se intensificaram nas últimas semanas devido a expectativas de recuperação da economia dos EUA, afetam diretamente os custos e as receitas.

Faria já percebe aumento dos custos na hora de comprar produtos químicos -e projeta que, se o dólar continuar no patamar atual, deve gastar 15% a mais nas aquisições de insumos.

Ele deve repassar o aumento nos preços dos produtos. "Estamos segurando porque não é possível passar 15% de uma vez. Talvez passemos isso em duas vezes, três vezes."

Como no caso da Nanotech, outras companhias que compram e vendem para o exterior ou utilizam importados como insumo precisam analisar os custos para definir que estratégia adotar no novo contexto, informa o consultor Mauricio Golfette, do Sebrae-SP.

Segundo ele, quem é diretamente afetado em seus custos pela mudança no câmbio tem como opção diminuir as margens de lucro para não aumentar muito os preços. Mas isso nem sempre é possível nas pequenas empresas, quando as margens já estão reduzidas. Outra saída é repassar o aumento integral e tentar oferecer alternativas, como melhores prazos.

Para Celina Ramalho, professora da FGV, é preciso analisar a concorrência para definir o repasse de custos: "O aumento de preços não pode ser feito de uma só vez, porque o mercado é sensível. Mas também não se pode deixar de repassar esses custos, porque as compras futuras serão mais caras."

Buscar fornecedores no mercado interno é uma opção para lidar com preços maiores nos importados.

Lados da moeda

Por outro lado, há empresas que estão vendo vantagens nesse cenário. A aposta deles é que seus produtos vão ficar mais competitivos em relação aos importados.

O negócio do economista Andrew Denton, 54, da FitTech, é comprar, reformar e revender equipamentos para academias. Apesar de esses produtos serem importados, ele já os compra, usados, e paga em reais. "Para nós, o dólar alto é vantajoso. Os melhores equipamentos são os italianos e americanos. Com o dólar mais caro, o produto nacional tende a se beneficiar."

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