A Boeing apresentou na sexta-feira, 2, ao governo brasileiro a proposta de criar uma terceira empresa para unir as operações de aviação comercial com a Embraer, segundo fontes de mercado. O negócio de defesa da Embraer, segmento que o Brasil considera estratégico, ficaria de fora dessa estrutura. A expectativa de que isso poderia facilitar o fechamento do negócio entre a fabricante nacional e a gigante americana fez os papéis da Embraer dispararem nessa sexta na Bolsa paulista.
A intenção de criar uma terceira empresa foi apresentada a autoridades federais, mas ainda não houve decisão sobre a proposta, disseram fontes. A discussão foi antecipada jornal O Globo. Com a notícia, porém, a ação ordinária ON da fabricante brasileira registrou a maior alta de ontem da B3, de 4,41%, fechando a R$ 22,72. O resultado foi obtido mesmo em um dia negativo para o principal índice da Bolsa paulista, o Ibovespa, que fechou em baixa de 1,7%.
A criação de uma empresa voltada apenas à aviação comercial contemplaria o principal interesse da americana na Embraer - os jatos de médio porte para voos regionais. O movimento da americana seria uma resposta à franco-alemã Airbus, que anunciou a compra de uma fatia majoritária do projeto C-Series, da canadense Bombardier, que concorre diretamente com os E-Jets, da Embraer.
Com a nova proposta, o comitê criado pelo governo para avaliar o negócio vai decidir se os interesses de defesa do Brasil estarão protegidos. A primeira avaliação, porém, parece positiva. Uma das pessoas que acompanham o tema disse que, para o governo, o mais importante é excluir a área militar do acordo.
Essa decisão é decorrente do receio que futuras decisões estratégicas para a área de defesa da Embraer tenham de passar pelo crivo dos Estados Unidos. Esse é o risco de a Boeing eventualmente participar do controle de toda a Embraer.
Uma das fontes ouvidas pelo Estado aponta que o governo brasileiro avalia apenas questões protegidas pela chamada golden share - ação que dá ao Planalto poder de veto a decisões estratégicas da empresa. A negociação comercial não é preocupação do governo brasileiro.
Em relação ao assunto, há a percepção em Brasília de que a Boeing "tem mais pressa para fechar o negócio que o governo". Como o Estado antecipou na semana passada, executivos da Boeing gostariam de concluir as negociações para evitar que o negócio seja tema das eleições presidenciais.
Reação. A divulgação do eventual novo desenho do negócio levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a questionar a Embraer. Ontem, a fabricante de aeronaves divulgou um comunicado afirmando que "as partes envolvidas ainda estão analisando possibilidades de viabilização de uma combinação de outros negócios, que poderão incluir a criação de outras sociedades".
"Quando e se definida a estrutura para combinação de negócios, sua eventual implementação estará sujeita à aprovação não somente do governo brasileiro, mas também de órgãos reguladores nacionais e internacionais e dos órgãos societários das duas companhias", informou a gigante brasileira.
Procurada pela reportagem, a Boeing não quis comentar o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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