Do básico ao luxo

Endividamento cresce no país, mas tem caminhos diferentes de acordo com a renda

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 09/11/2022 às 07:00.

Na lista das dívidas futuras de pessoas de alta renda estão a compra de passagens aéreas e de pacotes de viagens para as férias e alimentação fora de casa (Rovena Rosa/Agência Brasil)

A quantidade de famílias brasileiras com dívidas a pagar subiu 4,6% em outubro, na comparação com o mesmo período do ano passado. Todas as faixas de renda ficaram mais endividadas nos últimos 12 meses, mas as razões são diferentes.

Enquanto o grupo de famílias que recebem até dez salários mínimos – baixa e média renda – se endividam com cartão de crédito para custear contas básicas para a subsistência, os grupos de alta renda, que recebem mais de dez salários, adquirem dívidas com viagens, passagens aéreas e alimentação fora de casa.

Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em um ano, a proporção de endividados cresceu mais, justamente, entre as famílias com alta renda – aumento de 5,8% contra 4,3 pontos percentuais para os que recebem até dez salários mínimos.

“Temos 80,2% de famílias de baixa e média renda endividadas hoje e 75,4% de famílias de renda alta endividadas. Na comparação com outubro do ano passado, o endividamento foi maior para o grupo de alta renda, que retomou o consumo de serviços em um ambiente em que estes estão mais caros. Estamos falando de passagens aéreas, viagens, salão de beleza, alimentação fora do domicílio. Tudo isso cresceu muito de preço no último ano”, destaca a economista da CNC, Izis Ferreira.

É o caso de Núbia Schetine, funcionária pública de Belo Horizonte. Ela e o marido têm o hábito de planejar os gastos de viagem e quando terminam de pagar uma já adquirem a próxima. 

“Geralmente eu busco nos sites promocionais um ano antes de viajar, para eu terminar de pagar antes da data da viagem. Gosto de comprar dessa forma para pagar parcelas pequenas que não pesem no orçamento e simultaneamente já vou guardando dinheiro para usar na viagem e geralmente faço uma capitalização”, conta.

Diferente de César Freitas, servidor público que mantém as principais dívidas no cartão de crédito. “O cartão de crédito propicia a compra de produtos com maior valor, que em muitos casos não são possíveis na modalidade à vista. Utilizo para todo tipo de compra, desde alimentação, vestuários, combustíveis, até produtos de maior valor, como notebooks”, afirma.

Gastos
Para a economista e professora das Faculdades Promove Mafalda Valente, é a disponibilidade maior de renda que leva a gastos maiores. “Se a pessoa tem mais renda disponível, faz uma dívida maior. Pode disponibilizar parcelas maiores dos seus rendimentos para adquirir novas contas”, explica.

Para ela é importante diferenciar endividamento e inadimplência. “Endividamento é quando a pessoa assume uma dívida para pagar no futuro. Inadimplência é quando a pessoa não consegue arcar com esse compromisso que ela assumiu”, destaca. 

Considerando o endividamento, os mineiros ocupam lugar de destaque no cenário nacional. Em Minas, 87,2% da população está endividada. É o quinto Estado no ranking liderado pelo Paraná, onde 95,8% das famílias estão endividadas.

Apesar de endividamento ser diferente de inadimplência, a professora Mafalda Valente alerta que taxas altas de endividamento podem não ser um bom sinal para o futuro do país. “Ao se endividar, a pessoa começa a ter um limite na renda, que começa a ser destinada ao pagamento das dívidas. Esse endividamento bloqueia o crédito e as pessoas e a economia como um todo ficam limitadas e com dificuldades para novos investimentos e aquisições. Isso acaba emperrando a produção, o consumo e dificulta o giro da economia”, avalia.

Inadimplência
A pesquisa da CNC mostrou também um crescimento na inadimplência das famílias brasileiras quando comparada com outubro de 2021. Atualmente, 30,3% têm alguma conta atrasada há mais de 30 dias. É a quarta alta consecutiva. Entre os mineiros, o índice é ainda maior – 42,2%.

Uma boa notícia é que a proporção de famílias com dívidas atrasadas por mais de 90 dias vem caindo desde abril: alcançou 41,9% dos inadimplentes, a menor proporção desde dezembro de 2021. Os consumidores têm buscado renegociar essas dívidas, destaca a CNC.

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