Entrevista com Otaviano Canuto - "As mulheres são melhores"

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
08/12/2013 às 08:13.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:38
 (Carlos Rhienck )

(Carlos Rhienck )

Incansável estudioso de temas como combate à pobreza e desigualdade de gêneros, Otaviano Canuto é hoje consultor sênior do Banco Mundial, onde já ocupou uma das vice-presidências. Morando em Boston há uma década, ele veio a Minas na semana passada para “rever amigos” e participar de um seminário no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Esse brasileiro bom de prosa, que assessorou o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, no governo Lula, e cujo nome chegou a ser cogitado para ocupar a cadeira de Guido Mantega, conversou com exclusividade com o Hoje em Dia. Ao falar de comando de dinheiro dentro de casa, disparou: “As mulheres são melhores que nós”.    O “pibinho” tem salvação? O que temos que fazer é olhar o filme completo. A retração de 0,5% no terceiro trimestre deve ser revertida. O importante a observar é que a economia está crescendo em uma faixa e tem no potencial algo hoje entre 2% e 2,5%.   Mas isso não é pouco?  Certamente sim. Mas é uma bobagem ficar querendo comparar a taxa de crescimento do Brasil com a de outros países, como China e Índia. Eles estão atravessando momentos que, para o bem ou para o mal, nossa região atravessou nos anos 60 e 70. É o momento em que a economia atravessa um processo de transição, de transferência de mão de obra de atividades de subsistência para atividades mais modernas. Nessa transição há um aumento no valor da produtividade de boa parcela da população. Essa transição de mão de obra do campo para a cidade é o que subjaz todas as experiências até hoje de países no mundo moderno crescendo a taxas muito elevadas durante um longo período. Foi assim na América Latina nos anos 70, foi assim no Japão, nos Tigres Asiáticos, Coreia, Taiwan e, recentemente, na China.   O que esses países estão fazendo melhor do que o Brasil? Chineses e asiáticos em geral estão em vários aspectos atravessando esse processo muito melhor do que nós fizemos na América Latina. A revolução na qualificação, na educação, eles estão fazendo muito melhor do que nós fizemos. Houve um descaso, no nosso caso. Na nossa região, as elites não perceberam, à época, a importância da educação da população. Eles também estão fazendo esse processo num quadro em que as empresas têm que competir, se capacitar tecnologicamente, enquanto que aqui esse processo foi feito atrás de muros de proteção.    Por isso que o país tem dificuldade para crescer? O país cresce pouco hoje porque não fez a lição, não completou o conjunto de reformas necessárias.    2013 está perdido? O governo tomou a direção correta em áreas cruciais, mas demorou um pouco a perceber a exaustão do padrão de crescimento do país durante o novo milênio, o que é sempre fácil de dizer a posteriori e por quem está fora. Certamente é um ano em que o país poderia ter crescido mais se tivesse transitado para um modelo de estabelecimento de parcerias público-privadas.   O Brasil foi bem sucedido ao promover a ascensão das classes mais pobres?  Sim. Hoje somos um país de média renda. O Banco Mundial é fã do que se passou no Brasil nos últimos 10 anos, na base da pirâmide. Às vezes, as pessoas de classe média alta ou de capitais não enxergam. Mas você vai no Nordeste ou no Norte e vê que esse processo é sólido. O Bolsa Família e outros programas de transferência de renda são fantásticos porque têm baixíssimo custo e o dinheiro vai diretamente para a pessoa, não se perde no meio do caminho, por desperdício ou por apropriação. A inovação tecnológica e a capilaridade bancária permitem colocar o dinheiro na mão da mulher, o que é um dado muito importante.    O senhor trabalhava esses temas quando era vice-presidente do Bird.  Na casa onde a mulher manda na alocação de recursos, os bebês têm mais altura e mais peso. Essa realidade é universal, mas descoberta no Brasil. Eu adoro jogar esses dados quando chego em recantos machistas. Eu adoro quando tem uma plateia grande e digo: desculpem meus parceiros de gênero, mas elas são melhores.    Evoluímos na desigualdade de gênero? O Brasil evoluiu favoravelmente muito nisso. Parte da redução da pobreza é também decorrente do aumento da participação da mulher no mercado de trabalho. Em outros lugares do mundo, a mulher não pode nem ter conta bancária, dirigir ou ter títulos de propriedade. E essa restrição faz com que o país sofra economicamente. Há mais coisas a fazer, mas o Brasil não faz feio. É um bom exemplo de como há benefícios em termos econômicos e redução da pobreza com a igualdade de gêneros.   Outras áreas evoluíram como a social? Quem dera que o padrão das outras áreas de gestão pública no Brasil fosse o das políticas públicas sociais hoje. Infelizmente não é.    O Brasil já foi visto como o país mais atrativo do mundo. Esse momento já passou?
Houve um excesso de otimismo e não foi apenas com o Brasil. A mídia e os analistas econômicos têm em comum com os mercados financeiros essas ondas de ufanismo, otimismo e, depois, desapontamento. A realidade está próxima do meio.    Quem é a bola da vez? O México. Como o Brasil, o México fez uma reposta anticíclica ao colapso global de 2009. Porém, no caso mexicano, houve a percepção de que aquilo funcionaria uma vez, mas não adiantava repetir a dose. Aquilo servia como uma resposta ao choque mas não era suficiente para alimentar o novo período de crescimento. O novo governo do México colocou na pauta de promessas um conjunto de reformas estruturais com grande potencial de revitalizar o crescimento. Porém, tem um provérbio em inglês, que certamente faz sentido em Minas, que diz que a prova do pudim está em comê-lo. Só na hora que você come o pudim de leite é que você vai realmente dar o seu veredicto. Então temos que esperar.    Seu nome foi ventilado como substituto do ministro Mantega. Isso não tem base ou fundamento. Alguém chutou meu nome por conta do fato de que eu conheço a presidente Dilma, tenho uma relação de admiração e apreço por ela. Escreve isso aí, viu! 

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