Espanha solidária: os reflexos da bolha imobiliária

Do Hoje em Dia
13/11/2012 às 06:23.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:13

O governo espanhol foi solidário com os bancos quando eles se viram ameaçados de bancarrota após a crise financeira mundial iniciada em 2008. Os bancos se salvaram, mas o governo ficou em sérias dificuldades e foi obrigado a tomar medidas que sacrificam fortemente boa parte da população. Agora, os bancos estão sendo forçados a se solidarizarem com os clientes ameaçados de despejos de suas casas, por falta de pagamento das prestações. Uma solidariedade necessária, mas que chegou atrasada para três devedores que não suportaram a pressão psicológica de perderem a moradia e se suicidaram.

Desde que a bolha imobiliária estourou em 2008, os bancos tomaram aproximadamente 400 mil casas de proprietários devedores na Espanha e mais 200 mil processos de despejo estão em curso na justiça. Com o desemprego maciço e a queda da renda familiar, os mutuários se viram impossibilitados de manter o pagamento das hipotecas. A lei espanhola não garante proteção eficaz do consumidor frente a cláusulas abusivas nos contratos de empréstimos hipotecários, como reconheceu o Tribunal de Justiça da União Europeia.

No último fim de semana, houve manifestações de rua, depois que uma ex-vereadora socialista, Amaia Egana, de 53 anos de idade, saltou do quarto andar do prédio onde morava quando oficiais de justiça estavam tentando despejá-la. A pressão levou o primeiro-ministro Mariano Rajoy, do Partido Popular, a convocar ontem seu partido conservador e os socialistas da oposição a acelerarem as negociações sobre a reforma das leis de despejo.

No mesmo dia, a Associação Espanhola dos Bancos (AEB) informou que, por razões humanitárias, as instituições financeiras deixarão de buscar na justiça o despejo de mutuários mais necessitados, nos próximos dois anos. Entre as empresas que assinaram o compromisso estão o Banco do Brasil e o Citibank. Mas nem todos os bancos que atuam na Espanha aderiram, alegando não desejar premiar a inadimplência nem dificultar a recuperação econômica.

Os acionistas desses bancos deveriam se lembrar das lições da história. Foi num momento como este que Hitler passou a culpar os banqueiros judeus pelas dificuldades econômicas da Alemanha. Não se pode dizer, também, que os bancos brasileiros, em geral, tenham aprendido com a história. Há quem se lembre do aviso da Febraban – os bancos estão impedidos de adiar pagamentos –, feito há dois anos, quando uma enchente devastou áreas do Rio de Janeiro.

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