
Os indicadores econômicos e os fundamentos de uma empresa são as variáveis mais básicas para determinar uma decisão de investimento em bolsa de valores. Essas regras, no entanto, parecem esquecidas em períodos eleitorais, como o atual. O “esquecimento” beneficia os investidores que apostam nas oscilações diárias do mercado, conhecidos como day traders. Para eles, são as pesquisas de intenção de voto que ditam os movimentos de compra e venda.
“Esta semana mesmo saíram indicadores de inflação. Ninguém nem olhou, porque o importante para eles são as pesquisas”, disse o gestor de investimentos Paulo Amanteia.
Ele observa que isso ocorre porque o mercado tem o costume de antecipar tendências. Se o candidato mais bem aceito pelo mercado aparece com chances de vencer, a bolsa sobe, se ocorre o inverso, a bolsa fecha no vermelho. É consenso entre os especialistas consultados que o candidato do PSDB, Aécio Neves, é preferido pelo mercado, e Dilma Rousseff (PT) tem menor aprovação nesse nicho.
Ele ressalta que para um investidor tradicional, com planos de longo prazo, e que já avaliou os fundamentos da empresa da qual pretende comprar ações, as pesquisas não terão nenhum efeito sobre sua decisão.
“O processo eleitoral afeta a bolsa por meio dos especuladores, que conhecem como ‘pensa’ o mercado. Quem investe no longo prazo continua com seus planos inalterados”, afirmou.
O presidente do Instituto Mineiro do Mercado de Capitais (IMMC), Paulo Ângelo Carvalho de Souza, avalia que há um raciocínio lógico, porém exagerado.
“O mercado vê com bons olhos a política econômica do PSDB, como as privatizações. E tem uma sensação de pessimismo com o PT. Esse raciocínio é refletido no curtíssimo prazo, mas com especulações. Ou seja, um grande investidor vê Aécio com chance de vitória e sai comprando ações. Como é um grande investidor, leva outros com ele, o que faz as ações subirem. Lá na frente, quando o preço do papel cair, o investidor já saiu dele (vendeu). É assim que ele ganha dinheiro”, apontou o presidente do Instituto Mineiro do Mercado de Capitais (IMMC), Paulo Ângelo Carvalho de Souza.
O coordenador do Ibmec-MG, Eduardo Coutinho, considera natural essas oscilações. “A literatura mostra essa maior oscilação já na década de 50. Isso se dá por vários fatores e, na eleição atual, a política do governo federal sobre as estatais listadas em bolsa, como a Petrobras, pesa contra a candidata do PT, que mina a rentabilidade da empresa. Como o mercado antecipa o futuro, uma perspectiva de mudança no governo faz a bolsa subir”, disse.
Mercado aguarda definição do segundo turno
Do dia 9 de outubro, quando foi divulgada a primeira pesquisa Datafolha para o segundo turno, até o fechamento da BM&FBovespa nessa quarta-feira (22), quando o mais recente levantamento foi divulgado, a bolsa caiu quase 5 mil pontos. Neste período, Aécio Neves (PSDB) saiu de uma vantagem de um ponto percentual sobre a presidente Dilma Rousseff para uma desvantagem de quatro pontos percentuais.
A despeito das turbulências na Bovespa, a Pimco, maior gestora de recursos do mundo, com US$ 1,9 trilhão em ativos, aposta no Brasil com base em análises de fundamentos e no valor relativo dos ativos financeiros, e não em quem vai ganhar as eleições, afirma o chefe da empresa para mercados emergentes, Michael Gomez.
“O mercado está prestando forte atenção nas eleições brasileiras, porque elas podem desencadear uma reestruturação do conjunto de políticas econômicas do país”, afirma, ressaltando que o caminho que será seguido pelo novo presidente e o ritmo em que virão as mudança só devem ficar mais claros após o encerramento do segundo turno.
“Parte do problema é uma assimetria na política macroeconômica do Brasil”, afirma Gomez, referindo-se ao efeito reduzido da alta de juros pelo BC sobre o controle da inflação.
CVM investiga Petrobras
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reguladora do mercado de capitais brasileiro, abriu na segunda-feira processo para investigar a Petrobras, informou o site da autarquia.
O órgão não informou o motivo da investigação, alegando que “não comenta casos específicos, inclusive para não afetar negativamente trabalhos de análise”.