A Grécia assume nesta quarta-feira (1°) a presidência da União Europeia na esperança de mostrar ao bloco e ao mundo que superou seu pior momento e é parte do grupo de nações europeias "responsáveis". Poucos meses depois de quase levar o euro ao colapso por conta de uma dívida considerada impagável, a Grécia promete uma operação "espartana" e garante que gastará "apenas" 50 milhões para assumir o posto de prestígio.
Mas a presidência é motivo de polêmicas. Atenas é vista com desconfiança pelos parceiros da União Europeia, enquanto analistas e agências chegam a alertar que ela não tem condições de assumir a presidência do bloco, que quase levou ao caos, e deveria se focar em seus problemas domésticos. Internamente, a população e partidos de oposição questionam a utilidade de gastar 50 milhões em uma promoção do país.
Os gregos terão a inusitada tarefa de presidir a União Europeia pelos próximos seis meses enquanto negociam, ao mesmo tempo, uma redução e até um perdão de sua dívida com Bruxelas. Para muitos, trata-se de uma incompatibilidade.
Pelas regras da UE, países se alternam na presidência do bloco e, durante o mandato, o governo que recebe a incumbência tem a responsabilidade de organizar centenas de reuniões e, de alguma forma, ditar as prioridades do bloco.
Em Atenas, a classe política quer mostrar que o país voltou aos trilhos e que tem condições de ser considerado como um parceiro sério. Nos próximos seis meses, presidentes, primeiros-ministros e ministros de toda a Europa farão viagens quase semanais para Atenas. No total, serão 14 reuniões ministeriais e 120 encontros em um semestre.
Mas tanto na Grécia quanto fora do país há quem defenda que Atenas abrisse mão da presidência, justamente para poder se focar nos problemas domésticos e no sexto ano de recessão.
O país enfrenta uma taxa recorde de desemprego e a pobreza aumenta a um ritmo inédito em 70 anos. "Não podemos assumir essa presidência", disse na semana passada Yannis Boutaris, prefeito de Thessaloniki, a segunda maior cidade grega.
Outros alertam que, na prática, a presidência será apenas um "teatro", já que é Bruxelas quem tem ditado a agenda e vem deixando claro para Atenas que não permitirá que os gregos presidam de fato a UE. Sem soberania econômica há dois anos, quando passou a ser "governada" pela UE, críticos alertam que a Grécia sequer tem hoje condições de assumir plenamente a função que lhe cabe no bloco.
Para a oposição grega, a humilhação tem um preço: 50 milhões. Trata-se do valor que Atenas vai gastar para acolher chefes de Estado, ministros e as dezenas de reuniões. "Esse é o menor valor gasto por um governo com uma presidência nos últimos seis anos", justificou o vice-ministro de Relações Exteriores, Dimitris Kourkoulas. Segundo ele, ministros e comissários da UE que visitem a Grécia pagarão a hospedagem de seus próprios bolsos.
Mas a presidência não conseguiu evitar escândalos. Em outubro, um funcionário do governo foi afastado depois de gastar 147 mil em gravatas com o símbolo da presidência grega.
Mesmo assim, o primeiro-ministro Antonis Samaras garante que a presidência será uma "oportunidade" para a Grécia. A agenda estabelecida por ele é ambiciosa: quer tratar de imigração, políticas contra a recessão, desemprego e a união bancária. "Será uma presidência da esperança", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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