A inflação de produtos supera a de serviços desde fevereiro no acumulado em 12 meses na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e a desvalorização do real ante o dólar tende a agravar essa relação, de acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O Índice de Preços do Varejo (IPV) registra alta acumulada este ano de 6,68% até maio, enquanto o Índice de Preços de Serviços (IPS) soma 5,19%. "As duas inflações são ruins. Por classe social, no entanto, o maior problema está na de produtos porque os produtos representam mais para quem ganha menos. Para quem ganha mais, a restrição de consumo que ela impõe é mais palatável", afirmou Fábio Pina, assessor econômico da FecomercioSP. Ele disse que as duas inflações são difíceis de controlar e descartou a elevação da taxa básica de juros (Selic) como uma solução simples. "São necessárias taxas bíblicas para baixar a inflação de produtos como arroz e feijão."
Segundo Pina, a desvalorização do real ante o dólar tende a piorar essa situação. Ele afirmou que a inflação acumulada de serviços se manteve entre 8% e 9% por mais de dois anos e a de produtos ficou mais baixa. Porém, lembrou o economista, antes o dólar estava na faixa de R$ 1,90 a R$ 1,95 e agora está a R$ 2,20.
Protestos
Pina disse acreditar que a inflação está no cerne da onda de manifestações que tomou conta do Brasil por ter elevado o custo de vida da população. Ele afirmou ainda que a inflação faz com que investimentos sejam atrasados. "Inflação destrói investimento porque você não consegue alocar recursos de forma adequada. Economias com alta inflação têm baixíssima produtividade dos investimentos. Em um investimento físico, com inflação, eu não consigo prever preço."
A FecomercioSP trabalha com uma inflação de 6% a 6,5% no ano. O cálculo, porém, foi feito com o dólar a R$ 2,10. "O piso não é mais 6% com o dólar no nível atual, mas vou manter a projeção porque ainda acho que o BC vai agir", disse Pina. Para ele, a inflação vai ser um problema para o governo nos próximos meses. No caso das famílias, segundo o economista, "os ajustes orçamentários já estão ocorrendo de um ano para cá". "As famílias começam a rever seus gastos, como no plano de telefonia ou de TV a cabo."
A FecomercioSP lançou, nesta segunda-feira, 24, o IPS e mudou a metodologia do IPV para aferir o peso e o efeito da alta de preços de serviços e varejo de forma isolada e diagnosticar diferenças da evolução do custo de vida nesses segmentos em diferentes classes de renda.
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