O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve as projeções de crescimento global para este e o próximo ano em 3,9%, mas alertou para os riscos à atividade que a escalada das tensões comerciais pode causar.
A avaliação consta no relatório Perspectiva Econômica Mundial, publicado nesta segunda-feira (16), pela instituição. No texto, o FMI alerta que a escalada da tensão comercial é "a maior ameaça de curto prazo" para o Produto Interno Bruto (PIB) global, citando barreiras impostas pelos Estados Unidos e as respostas de outras nações.
Além do impacto imediato sobre o sentimento do mercado, a proliferação de medidas comerciais poderia aumentar a incerteza sobre a amplitude potencial das ações comerciais, dificultando o investimento, enquanto barreiras comerciais mais elevadas tornariam os bens comercializáveis menos acessíveis, perturbariam as cadeias de fornecimento globais e retardariam a disseminação de novas tecnologias, reduzindo assim a produtividade", defendeu o FMI.
Mas a questão comercial não é o único desafio global. O FMI avalia que há sinais de que a expansão global dos últimos dois anos começa a se estancar.
"A expansão está se tornando menos uniforme e os riscos para as perspectivas estão aumentando", ponderou o fundo.
Além desses sinais, o FMI afirmou que alguns riscos se ampliaram desde a última revisão do relatório de Perspectiva Econômica Mundial, publicada em abril. São eles: a política na Europa e o Brexit.
"A incerteza política aumentou na Europa, onde a União Europeia enfrenta desafios políticos fundamentais no que diz respeito à política de migração, à questão fiscal, às normas relativas ao Estado de direito e à arquitetura institucional da zona do euro. Os termos do Brexit também permanecem incertos apesar dos meses de negociação", afirmou, em nota, o economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Maurice Obstfeld.
Para Obstfeld, as transições de poder na América Latina nos próximos meses também adicionam incertezas ao cenário global.
Ao comentar sobre a política monetária global, o FMI avaliou que as condições financeiras derivadas do aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) se "mantêm relativamente benignas".
"Os mercados - até agora - continuam a se diferenciar entre os mutuários, e as pressões das contas de capital têm sido mais intensas para aqueles com fraquezas evidentes (por exemplo, incerteza política ou desequilíbrios macroeconômicos). Se o Fed se apertar mais rápido do que o esperado atualmente, no entanto, uma ampla gama de países poderia sentir pressões mais intensas", comentou Obstfeld.
Países avançados em 2018
O FMI reduziu de 2,5% para 2,4% a previsão de expansão do PIB de países avançados neste ano, diante de sinais de moderação do crescimento econômico da zona do euro e do Japão. Para 2019, a projeção para esse grupo de nações se manteve em 2,2%.
Ao ponderar que os Estados Unidos seguem em ritmo de crescimento forte, com ajuda de estímulos fiscais e baixa taxa de desemprego, o FMI considera que as economias do bloco da moeda comum e japonesa passaram por moderação nas suas taxas de expansão após vários trimestres se expandindo acima do potencial.
Para a zona do euro, é esperada uma expansão de 2,2% em 2018 e 1,9% em 2019, respectivamente 0,2 ponto porcentual (p.p.) e 0,1 p.p. menor que o estimado em abril, quando foi publicada a mais recente atualização do relatório Perspectiva Econômica Mundial.
A principal revisão para baixo nos países da zona do euro veio de França e Itália.
Enquanto em abril se estimava que o país governado por Emmanuel Mácron se expandiria 2,1% este ano, agora é esperado 1,8%. Para o ano que vem, a projeção passou de 2,0% para 1,7%. No caso da nação italiana, a revisão para 2018 foi de 1,5% para 1,2%, ao passo que a de 2019 caiu de 1,1% para 1,0%.
Fora da zona do euro, mas ainda na Europa, o crescimento esperado para o Reino Unido é de 1,4% este ano e 1,5% ano que vem.
No caso do Japão, somente a estimativa deste ano foi revisada. A projeção do FMI para o PIB do país este ano passou de 1,2% em abril para 1,0% agora. Para 2019, é esperado 0,9%.
EUA
O crescimento econômico dos Estados Unidos está acima do potencial, amparado pelos estímulos fiscais do governo federal e pelo fortalecimento do mercado de trabalho, diz o FMI.
O fundo estima que a economia americana vai se expandir à taxa de 2,9% em 2018 e 2,7% em 2019. A projeção é a mesma da mais recente versão do relatório, publicada em abril.
"Um substancial estímulo fiscal, juntamente com uma demanda final privada já robusta, elevará a produção ainda mais acima do potencial e reduzirá a taxa de desemprego abaixo dos níveis registrados pela última vez há 50 anos, criando pressões inflacionárias adicionais. As importações devem se recuperar com a demanda doméstica mais forte, aumentando o déficit em conta corrente dos EUA e ampliando os desequilíbrios globais em excesso", comentou o FMI.
O texto também cita a batalha comercial empreendida pelo presidente americano, Donald Trump. De acordo com o FMI, a escalada protecionista é o principal risco de curto prazo para a economia mundial.
China
O FMI manteve a projeção para a expansão do PIB da China em 6,6% em 2018 e 6,4% em 2019 em seu relatório.
Se confirmada, a estimativa representaria uma desaceleração do crescimento no país asiático em relação ao ano passado, quando o PIB se expandiu a uma taxa de 6,9%. Na avaliação do FMI, isso ocorreria "à medida que um aperto regulatório se assenta sobre o setor financeiro e a demanda externa se suaviza".
"As autoridades (chinesas) estão dando passos bem-vindos para desacelerar a expansão do crédito, (mas) ações financeiras descoordenadas e ações regulatórias de governos regionais podem ter consequências indesejadas" sobre o preço de ativos financeiros e "aumentar riscos de rolagem" de dívidas, escreve a instituição.
Sem mencionar Pequim diretamente, o FMI aborda as tensões comerciais emanadas dos movimentos dos Estados Unidos nessa frente, cujo principal alvo é a China, e adverte sobre como a proliferação desse tipo de ação poderia obstruir investimentos, tornar bens comercializáveis mais caros, perturbar cadeias globais de produção e desacelerar a disseminação de novas tecnologias. O efeito final dessa soma de fatores, conclui o FMI, pode ser a diminuição da produtividade.
Emergentes
O FMI manteve a projeção para a expansão média do PIB do conjunto de países emergentes em 4,9% em 2018 e 5,1% em 2019, mas ressaltou que os prospectos de crescimento estão se tornando "mais desiguais" dentre as economias desse grupo.
Entre os fatores por trás dessa desigualdade na evolução da atividade estão, de acordo com o FMI, preços de petróleo ascendentes, rendimentos mais altos nos Estados Unidos em virtude de elevações das taxas de juros, a escalada de tensões comerciais e pressões de mercado sobre as moedas de algumas economias emergentes "com fundamentos mais fracos".
"Ao passo que as condições financeiras permanecem, em geral, benignas, esses fatores resultaram em reduções de fluxos de capital, custos de financiamento mais altos e pressões cambiais, mais agudas em países com fundamentos mais fracos ou riscos políticos mais altos", sublinha o documento.
Referindo-se a países como Argentina, México e Turquia, o FMI destaca que os bancos centrais desses países responderam à inflação e às pressões cambiais elevando as taxas básicas de juros. "(Desde fevereiro) o peso argentino se enfraqueceu mais de 20% e a lira turca, cerca de 10%, devido a preocupações sobre desequilíbrios financeiros e macroeconômicos."
Especificamente sobre a Turquia, a instituição aponta que, com condições financeiras mais apertadas devido a um grande déficit externo, o crescimento do PIB do país "deve se suavizar de 7,4% em 2017 para 4,2% neste ano".
A expansão média na América Latina deve aumentar "modestamente" de 1,3% em 2017 para 1,6% em 2018, e adiante para 2,6% em 2019, estima o FMI, respectivamente 0,4 e 0,2 ponto porcentual mais baixo que o projetado no relatório de abril.
"Ao passo que preços de commodities mais altos continuam provendo suporte para exportadores de commodities na região, a perspectiva menos otimista comparada com abril reflete prospectos mais difíceis para as principais economias, devendo-se a condições financeiras mais apertadas e à necessidade de ajustes políticos na Argentina, a efeitos remanescentes de greves e incerteza política no Brasil, a tensões comerciais e incerteza prolongada em torno da renegociação do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, na sigla em inglês) e à agenda política do novo governo no México", conclui o relatório.Leia mais:
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