Sem escapatória

Gasolina sobe além do previsto nas bombas, mas continua mais vantajosa que o etanol em BH

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
02/03/2023 às 06:59.
Atualizado em 02/03/2023 às 07:03
Preço do litro da gasolina subiu R$ 0,71 em menos de 48 horas na região central de Belo Horizonte; governo previu alta de R$ 0,34 (Maurício Vieira)

Preço do litro da gasolina subiu R$ 0,71 em menos de 48 horas na região central de Belo Horizonte; governo previu alta de R$ 0,34 (Maurício Vieira)

A gasolina subiu R$ 0,71 o litro em menos de 48 horas na região central de Belo Horizonte. Os motoristas estão assustados, mas a alternativa de encher o tanque com etanol ainda não é uma boa opção na maior parte dos postos de combustíveis da capital. 

Monitoramento feito pelo Hoje em Dia em estabelecimentos de BH mostrou que entre segunda (27) e quarta-feira (1º) o preço médio do litro da gasolina saltou de R$ 4,78 para R$ 5,49, enquanto o do etanol passou de R$ 3,64 para R$ 3,89. Uma alta muito superior à prevista pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante o anúncio do reajuste. Na ocasião, ele afirmou que a elevação estimada era de R$ 0,34 na gasolina e R$ 0,02 no álcool.

A diferença de preços entre etanol e gasolina é muito grande, mas, em termos percentuais, o custo do álcool ainda equivale a 70,8% do da gasolina vendida no Centro de BH. O percentual máximo para valer a pena é de 70%, segundo os fabricantes de veículos.

Um tanque com capacidade para 45 litros vai custar R$ 245 ao ser abastecido com gasolina e R$ 175 se for utilizado etanol. Parece uma economia grande, mas é apenas aparência, segundo os fabricantes, pois o rendimento médio dos carros abastecidos com etanol é 30% menor do que o verificado quando se usa o derivado do petróleo. 

“Sempre faço as contas para tentar a melhor opção, mas agora está ficando muito difícil. Esse aumento dos últimos dias derruba qualquer planejamento”, diz Rogério Freitas, que enche o tanque do carro pelo menos uma vez por semana. 

Situação difícil para os motoristas e desesperadora para quem utiliza o veículo como ferramenta de trabalho, conta Simone Almeida, presidente do Sicovapp, que representa os motoristas de aplicativo.

“Estamos sem reajuste de tarifas há muito tempo; a única coisa que aumenta são as taxas cobradas dos motoristas. Muitos podem ser obrigados a deixar os carros na garagem”, diz.
Segundo ela, os motoristas já estão se organizando para cobrar reajustes de tarifas das principais plataformas de transporte por aplicativo.

A educadora financeira Aline Soaper lembra que pesquisar preços é fundamental, mas existem outras formas de economizar. Manter pneus calibrados, escolher postos de combustível que estejam na rota normal do motorista e cuidar da manutenção do veículo são alguns dos cuidados básicos. 

“Para se ter uma ideia, o custo de manutenção de um veículo já quitado é, em média, 2% do valor de compra do mesmo, ou seja, vale a pena traçar estratégias e economizar”, avalia.

Justificativas
O combustível aumentou por causa da reoneração dos combustíveis. De acordo com o ministro Fernando Haddad, o retorno da cobranças de tributos federais (PIS e Cofins) nos combustíveis é uma forma de colocar as contas públicas em ordem e cumprir compromissos do governo com a diminuição do déficit fiscal. 

No reajuste, o governo também optou por pesar a mão na gasolina e poupar o etanol, decisão que foi comemorada pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que representa o setor. “É justamente disso que precisamos neste momento do país: a racionalidade expressada na economia, no meio ambiente e na área social, refletindo em melhoria para a população”, afirmou.

Cascata
O risco, segundo a economista Mafalda Valente, professora das faculdades Promove, é o de haver um efeito cascata na inflação. “A gente tem uma economia muito dependente de transporte. O impacto deve vir na alimentação, em especial, e em toda cadeia produtiva”, avalia. 

Segundo ela, o preço do combustível é base na produção brasileira e os efeitos inflacionários talvez exijam do governo novas medidas de controle de preço. “Novo aumento da taxa de juros torna-se uma possibilidade, mas tem como custo o bloqueio do retorno do crescimento”, diz.

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