Índices de inflação divergentes complicam previsões

Francisco Carlos de Assis
Publicado em 07/11/2012 às 14:36.Atualizado em 21/11/2021 às 17:58.

Os sinais trocados dos dois indicadores de inflação de outubro divulgados nesta quarta-feira (7) contribuem para a composição de um leque de variáveis que, no médio prazo, dificulta um pouco a visão de alguns analistas sobre o comportamento dos preços para o ano que vem. É o que defende, por exemplo, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE subiu 0,59% e o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) da FGV caiu 0,31% em outubro ante setembro.

O que explica o caminho oposto traçado pelos dois indicadores é a defasagem de tempo em que se dá o repasse dos movimentos dos preços no atacado para o varejo. Em setembro o IGP-DI havia subido 0,88% e o IPCA, 0,57%. Já em outubro, o IGP-DI caiu 0,32% e o IPCA continuou subindo e avançou 0,02 ponto porcentual para 0,59%. Isso ocorreu porque os preços agropecuários, intensivos em alimentos a preços de atacado, caíram 1,34% em outubro ante alta de 1,98% em setembro e o conjunto dos alimentos no varejo, ou no âmbito do IPCA, subiram 1,36%, com evolução de 0,10 ponto porcentual em relação à variação positiva de 1,26% em setembro.

A variação do IPCA mostrada pelo IBGE em outubro ficou dentro do esperado pelo economista do Banco Fator, mas surpreendeu pela sua composição interna. Lima Gonçalves esperava um pouco mais de pressão vinda dos artigos de vestuário, dado a troca de estação, e menos força dos preços dos alimentos já que, pelas suas contas, o atacado começaria a devolver parte das altas dos preços das commodities decorrentes da seca nos Estados Unidos. O Vestuário até refletiu alta de seus preços, de 0,89% em setembro para 1,09% em outubro, mas abaixo do esperado pelo economista.

Dada a defasagem temporal com que se dá o repasse do atacado para o varejo, Lima Gonçalves acredita que a deflação dos agrícolas que está sendo capturada agora pelos indicadores de preços no atacado se apresentará nos indicadores de preços ao consumidor ao longo dos próximos dois meses de 2012 e entrará por 2013. "Em algum momento vai chegar no IPCA", pondera o economista do Banco Fator. Perguntado se a deflação do atacado não será detectada pelo IPCA justamente no período sazonal de aumento da demanda, com pena de diminuir o impacto de alívio, o economista diz não acreditar nesse cenário.

O aumento da demanda no final do ano já é uma prática corrente e, de acordo com ele, as pessoas não vão comprar duas vezes um mesmo item de alimentação só pelo fato de o preço ter caído. Mesmo porque, a queda que se percebe no atacado não chega na mesma magnitude na ponta do consumidor.

De qualquer forma, a previsão preliminar e qualitativa do economista do Fator para o IPCA em novembro é de uma taxa menor que a de outubro. "Mas vou esperar o IPCA-15, porque a dinâmica dos preços este ano está diferente", disse, acrescentando que tem trabalhado na mesma linha do Banco Central, que está vendo um movimento direcional dos preços, mas oscilante. Ele se referiu à argumentação das autoridades monetárias de que os preços convergirão para a meta, "mas de forma não linear".

Energia

Os preços administrados para o ano que vem, por exemplo, observa Lima Gonçalves, são mais uma variável que anuvia a visão em relação à inflação no próximo ano. "O pessoal (economistas) está colocando nas projeções o porcentual de queda na inflação em resposta à redução da tarifa de energia elétrica que o (Guido) Mantega tem falado. Eu não tenho coragem de fazer isso porque acho muito incerto o impacto", diz o economista do Fator, ao se referir ao 0,5 ponto porcentual com que o ministro e parte do mercado trabalham como efeito da redução de energia sobre o IPCA de 2013.

"Basta ver o resultado da adesão das empresas de energia para renovação de contratos de concessão com o governo, abaixo de 100%. Se a Copel e a Cemig não aderirem, já teremos duas capitais que não contribuirão para a queda da tarifa", avalia o economista, acrescentando que quem vai pagar por isso serão as geradoras que, em princípio, são estatais.


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