Os estoques excessivos da indústria vão além das montadoras, cujos pátios cheios de carros desencadearam uma onda de férias coletivas, suspensão de contratos de trabalho e programas de demissão voluntária. Também apontam quadro de estoques acima do normal os setores têxtil, mecânico (máquinas e equipamentos) e vestuário e calçados.
Com esse cenário, a indústria revê para baixo as expectativas de crescimento da produção em relação a 2013. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), que em dezembro projetava alta de 2%, reviu os números para 1,7% na sexta-feira.
O Banco Central, no relatório sobre a inflação, aponta alta de apenas 0,5% para a indústria de transformação, em comparação ao crescimento de 1,9% do ano passado. A Fiesp tem avaliação próxima, com expectativa de 0,8% de crescimento. No fim do ano, a aposta era de 2%.
O início do ano foi positivo para a indústria. Em janeiro, a produção industrial, medida pelo IBGE, cresceu 3,8%. Em fevereiro, a alta foi de 0,4%. O resultado do bimestre reverteu totalmente as perdas nos últimos dois meses de 2013. Mas a indústria voltou a apresentar um desempenho errático.
Falta de confiança do empresariado e do consumidor, alta dos juros, frustração com a esperada retomada das exportações e crise na Argentina estão entre as razões para a expectativa de crescimento abaixo do que se imaginava.
O indicador de estoques da indústria, elaborado mensalmente pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, em março, de um total de 14 setores, nove registraram aumento de empresas com produtos parados em excesso. Em dezembro havia cinco setores nessas condições e, há um ano, sete.
No mês passado, 8,4% das cerca de 1,2 mil indústrias consultadas tinham estoques excessivos, excluída a fatia de 1% das empresas que declararam ter produtos insuficientes em seus depósitos. É o mais alto porcentual desde outubro de 2011, quando atingiu 8,5%, segundo o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo. A média dos últimos cinco anos foi de 3,5%.
O setor é super estocado quando a parcela de empresas com estoques excessivos supera 10%. No caso das montadoras e autopeças, 26,7% das empresas relataram estoques acima do normal. Na indústria têxtil, 15,6% das empresas informaram ter estoques excessivos, na mecânica, 14,4% e na de vestuário e calçados, 13,3%. "A recuperação que estava sendo ensaiada pela indústria no início do ano perdeu fôlego e os altos estoques vão além dos carros", diz Campelo. "Isso sinaliza uma situação preocupante." Uma das razões para a mudança, que ele chama de "fator choque" é a queda de vendas para a Argentina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.