Inflação dá trégua, mas cotação do dólar começa a pressionar

Luiz Guilherme Gerbelli, Francisco Carlos de Assis e Ricardo Leopoldo
06/08/2013 às 09:15.
Atualizado em 20/11/2021 às 20:42
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Os produtos importados começam a subir de preço por causa da forte desvalorização do real. Nesta segunda-feira, 05, a moeda norte-americana avançou 0,92% e fechou o dia cotada a R$ 2,30. Somente neste ano, o dólar subiu 12,47%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), registrou uma alta de 2,20% no preço do televisor em julho na cidade de São Paulo. No mesmo período, a inflação do notebook foi de 0,47%, e a do microcomputador de 0,27%. O setor de eletroeletrônicos é grande importador.

"Inicialmente, o câmbio subiu para um patamar entre R$ 2,10 e R$ 2,15. E, agora, há mais um ciclo de alta. Essa alta no preço dos produtos pode ser reflexo do início dessa desvalorização", afirmou Rafael Costa Lima, coordenador do IPC. Segundo ele, atualmente, o repasse de preços está mais rápido do que em outros momentos de elevação do dólar. Isso pode ocorrer porque as empresas estão com pouca margem e, por isso, têm de repassar ao consumidor a alta de custo com importados.

Por enquanto, porém, a pressão do câmbio é limitada. A alta do dólar não deve elevar os índices de inflação de julho. O próprio IPC teve desvalorização de 0,13% no mês passado, depois de alta de 0,32% em junho. O IBGE divulga na quarta-feira, 07, os dados do IPCA de julho e a expectativa de boa parte do mercado é de que a inflação fique próxima de zero.

"O IPCA deve trazer boas notícias, mesmo que já esperadas, para o governo", disseram analistas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) por meio do Informativo Semanal de Economia Bancária. "A expectativa dos analistas é que o índice venha em torno de zero, o que deve trazer a variação acumulada em 12 meses dos atuais 6,70% para 6,24%." "A se destacar ainda o forte recuo nas expectativas para a inflação nos índices não oficiais, em especial o IGP-M deste ano, cuja mediana das projeções recuou de 4,94% para 4,69%", concluíram os economistas.

Pressão

Os especialistas avaliam, porém, que haverá efeito significativo do câmbio na inflação. Durante uma palestra em evento do setor automobilístico, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore disse que o movimento de desvalorização do real em relação ao dólar pressiona a inflação. Ele avalia que a taxa de repasse do câmbio para o IPCA numa estimativa "otimista" está acima de 5%.

Na avaliação de Pastore, a tendência é do câmbio ficar ao redor de R$ 2,30. Segundo Pastore, a desvalorização do real "não é transitória". Ele destacou que esse fato está relacionado com a migração de uma parte dos capitais que estão nos mercados emergentes para os EUA e o avanço do déficit das contas externas no Brasil. Para Pastore, o déficit em transações correntes deve subir de US$ 52 bilhões em 2012 para US$ 80 bilhões este ano.

"Contudo, a depreciação do câmbio precisa ser contida pela política monetária e fiscal ou ambas", destacou. "No entanto, como o governo passa por uma crise de confiança, com as manifestações de ruas, a economia política sugere que os governantes ficam um pouco mais cautelosos para reduzir gastos", destacou. "Eu preferiria que o ajuste viesse da parte fiscal, mas não vejo o governo mudando. O superávit primário está muito baixo e a contabilidade criativa está ativa."

Segundo Pastore, o IPCA deve subir perto de 6% neste ano e atingir 6,5% em 2014. "A inflação no País está reprimida", comentou, referindo-se às medidas que o governo adotou para conter a elevação dos preços, como a decisão de não elevar as tarifas de passagens de ônibus. "Sem preços administrados, a inflação no Brasil está rodando perto de 8%." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
http://www.estadao.com.br

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