Invasão chinesa descaracteriza a tradicional Feira Hippie de BH

Jeanette Santos - Do Hoje em Dia
06/01/2013 às 09:37.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:20

Pelo menos metade das concessões devem ser direcionadas a mulheres (Ricardo Bastos)

Arte, artesanato e variedades. O conceito que define a tradicional feira da Avenida Afonso Pena, popularmente conhecida como Feira Hippie, está ameaçado pela invasão de produtos importados da China como bolsas, bijuterias e roupas.

Praticamente sem fiscalização, a concorrência dos artigos “made in china” com os produtos artesanais e manufaturados descaracteriza cada vez mais a Feira Hippie.

Sem etiqueta de origem, os produtos importados do gigante asiático – conhecido pela exploração de mão de obra barata – podem ser encontrados em dezenas de barracas, a maioria delas alugadas de permissionários que deixaram de produzir e, segundo os colegas, só aparecem para receber o dinheiro da locação.

Lista de presença

Antigo, o problema com a concorrência desleal imposta pelos “chineses” se agravou nos últimos anos com o arrefecimento da fiscalização, reconhecem os expositores.

No setor de calçados, por exemplo, há mais de três meses os fiscais não passam a lista de presença, segundo os feirantes.

“Isso dá chance ao expositor, que está desestimulado, a correr o risco de punição em troca do dinheiro do aluguel de sua barraca”, avalia Marcos Ferreira Diniz, diretor da Associação dos Expositores da Feira.

Ele reclama do “descaso” com que a prefeitura vem tratando a feira e os feirantes, desde que o processo de licitação para a concessão das permissões foi embargado a pedido dos expositores e a ação remetida ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, para julgamento do mérito.

A fiscalização, rebate o gerente do setor na Prefeitura de Belo Horizonte, Willian Nogueira, atua em duas frentes. Rotineiramente, por meio de equipes que agem para inibir a presença de ambulantes, e quando provocada por denúncia dos próprios expositores.

No caso de dúvida em relação ao produto vendido, o expositor é visitado e tem que provar que tem condições de produzir o que está vendendo. sob risco de perder a licença.

Padronização reduz atrativo e afasta turista

A invasão de artigos chineses em um espaço que tem como diferencial a produção artesanal compromete uma das atrações turísticas mais procuradas na capital.
“A manufatura e a arte são valores agregados aos objetos e é atrás disso que o turista está quando se dispõe a visitar a feira no domingo”, afirma a analista técnica do Sebrae Samira de Souza.

A disseminação de produtos padronizados, fabricados em larga escala, na sua visão, afasta não só os turistas, mas os consumidores que sabem que podem adquirir esse tipo de produto no comércio local, principalmente em shoppings populares.

Fabricante de bolsas há mais de 30 anos, o expositor Léo Cerqueira diz que já pensou em abandonar a produção, demitir os dois ajudantes e comprar as bolsas que comercializa na Rua 25 de Março, em São Paulo. “Tenho gastos com a produção. Para cada modelo novo tenho que desenhar e modelar, antes de partir para a produção. Pago energia elétrica, funcionários e impostos e não consigo concorrer com o preço deles (os atravessadores)”, desabafa.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que mantém fiscalização e trabalha para que as características da Feira sejam mantidas.

Em caso de constatação de inadequação, como exploração do espaço por terceiros, são aplicadas multas.

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