As consecutivas quedas na taxa básica de juros (Selic) e o acirramento da concorrência bancária em 2012, por meio da ação dos bancos públicos, não foram suficientes para reduzir, de forma proporcional, os juros médios de produtos financeiros na ponta do consumo, seja para pessoa física ou jurídica. Em alguns casos, não houve alteração. Um bom exemplo é o cartão de crédito.
Embora o governo federal tenha baixado os juros dos bancos públicos, a taxa mensal média do dinheiro de plástico em Belo Horizonte é de cerca de 12% desde 2009.
Isso significa que, no ano, a dívida do cartão de crédito aumenta 324,79%. O coordenador de pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), Wanderley Ramalho, explica que a dívida do cartão que não é paga pelo consumidor quadruplica a cada ano.
Ou seja, um débito de R$ 1 mil se transforma em R$ 4 mil em um ano. Em dois anos, os R$ 1 mil já são R$ 16 mil. “Em quatro anos, o consumidor tem R$ 64 mil em dívidas. Uma dívida que começou com R$ 1 mil, vira um carro de luxo”, compara.
Cheque especial
A taxa do cheque especial caiu pouco. Em janeiro de 2012, o encargo que incidia sobre o crédito rotativo da conta corrente no final do mês era de 8,47%. Em dezembro do ano passado, a taxa baixou para 7,71%. Para evitar cair em armadilhas, é necessário colocar na ponta do lápis os juros. Afinal, a redução representa pouco no bolso do consumidor.
O cliente que mantinha uma dívida de R$ 1 mil no cheque especial com uma taxa de 8,47% ao mês pagava, em 12 meses, R$ 2.652,87. No caso, a dívida salta 165,29% ao ano. Se o encargo cobrado for de 7,71% ao mês, como o apurado no mês passado, o débito de R$ 1 mil aumenta 143,42%, passando para R$ 2.438,22. A diferença no bolso do cliente, em 12 meses, é de R$ 214,65, mas os juros totais continuam pesados.
Em média, segundo o coordenador de pesquisas do Ipead, os juros do cheque especial em 2012 foram de 143,82%. Isso significa que uma dívida de R$ 1 mil se transformaria em R$ 2.438,20.
O motivo da baixa eficácia das ações do governo federal, segundo Ramalho, é uma mistura da negativa dos bancos privados em reduzir a margem de lucro com fatores como a inadimplência. “Os bancos levam o risco do empréstimo em consideração, claro. Porém, as taxas cobradas no Brasil são altíssimas. Chegam a ser inexplicáveis.
O consumidor sofre com os juros e a indústria também”, comenta Ramalho.
Apesar disso, ele afirma que o governo não deve exagerar na intervenção na economia, sob pena de formar uma imagem pouco atrativa para o investidor estrangeiro. “O Brasil tem atraído investimentos de produção. Se o governo intervir muito, pode causar insegurança jurídica”, diz.