O laboratório Fleury anunciou ontem (14) que vai buscar um sócio, com ajuda do banco americano JP Morgan. Por trás desse movimento, capitaneado por um grupo de 24 médicos que detém o controle da companhia, está a mudança do perfil de atuação da empresa. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, o Fleury, hoje conhecido pelas análises clínicas, quer se tornar uma nova opção "classe A" em saúde, nos moldes do Sírio-Libanês e do Albert Einstein.
A companhia pretende encontrar um sócio estratégico, e não um fundo de private equity. A tentativa de venda de uma parte do capital é alvo de comentários no mercado há anos. Para um especialista no setor, apesar da marca forte, o Fleury precisa de uma "chancela" de um grande nome internacional para se tornar uma referência em saúde além dos exames.
A tentativa do Fleury de reduzir sua dependência da área de análises pode ser explicada pela ferrenha disputa por preço no segmento à medida que o número de clientes de planos de saúde privados aumenta. Já pensando no médio e longo prazos, a empresa reduziu a exposição de sua principal marca no "varejão" de laboratórios ao criar a bandeira A+.
Para se tornar uma referência em saúde - com hospitais, clínicas, laboratórios e outros serviços -, o Fleury precisará de investimento. Segundo relatório do Deutsche Bank, a opção por um investidor estratégico internacional (ou seja, uma companhia do setor de saúde) em vez de um fundo de private equity (que compra participações em empresas) se daria por necessidade. "Não cremos que o Fleury seja atrativo para fundos de private equity", diz o banco.
Dificuldades
As principais companhias do segmento - incluindo Fleury e Dasa - enfrentam dificuldades na relação com os planos de saúde. O crescimento dos custos pressiona o resultado das operadoras e dificulta o repasse da inflação à remuneração dos laboratórios. Este tipo de problema levou o Fleury a deixar de atender clientes da Unimed Rio.
A estratégia do Fleury de ficar menos dependente de serviços mais corriqueiros reflete, segundo fontes, essa tentativa de recomposição de margens. No ano passado, a companhia faturou R$ 1,7 bilhão, sendo que mais de 70% da receita vieram de pagamentos dos planos. O lucro do Fleury ficou em R$ 108,6 milhões entre janeiro e setembro de 2013, queda de 8,3% em relação aos R$ 118,4 milhões registrados no mesmo período do ano passado.
A decisão de procurar um sócio lá fora animou os investidores na BM&FBovespa. As ações do Fleury subiram 9% no pregão de ontem(14), após um período de desconfiança em relação aos rumos da companhia neste ano. O resultado não foi suficiente para recuperar a desvalorização acumulada nos papéis do laboratório, que ainda supera a marca de 17% no ano.
O Fleury é controlado pela Core Participações, grupo de 24 médicos que possui participação indireta na companhia por meio da Integritas Participações, com 46,74% do capital, segundo posição mais atualizada da BM&FBovespa. A Core também tem participação direta de 6,27%. A Bradseg Participações, do Bradesco, tem 4,63% do capital do Fleury.
Procurados, Fleury e JP Morgan não quiseram se manifestar oficialmente sobre o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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