De parafusos a helicópteros, o desenvolvimento da produção de petróleo na camada pré-sal tem potencial para movimentar diversos setores da economia mineira. Entram na lista desde a fabricante de aeronaves Helibras, em Itajubá, no Sul de Minas, até pequenos prestadores de serviços, em capacitação pelo Serviço Brasileiro de Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O leilão do Campo de Libra, maior reserva de petróleo do país, realizado na semana passada, deu novo ânimo ao setor, que estava com a confiança abalada após a crise da OGX, petrolífera de Eike Batista.
O plano de negócios da Petrobras prevê US$ 236 bilhões em investimentos entre 2013 e 2017. Somente o Campo de Libra vai demandar entre 60 e 90 novas embarcações e de 12 a 17 novas plataformas.
Cifras tão robustas fundamentam as expectativas de crescimento da demanda para a Helibras, fabricante de Helicópteros. Os dados da empresa apontam para uma demanda superior a 100 novas aeronaves de grande porte nos próximos anos, visando a atender uma demanda que deverá chegar a 1,6 milhão de passageiros por ano em 2015. As distâncias cada vez maiores entre o continente e os poços de exploração do pré-sal impulsionam os negócios.
No mercado offshore (no mar) brasileiro, existem, hoje, aproximadamente 200 helicópteros de todas as marcas. Desses, mais de 50 são modelos produzidos pela Helibras ou sua controladora, a Eurocopter, adquiridos por meio de contratos de longo prazo ou servindo ao mercado spot – a contratação esporádica de aeronaves para atender às demandas excedentes.
Do setor de infraestrutura elétrica e de automa-ção, a Orteng Equipamentos e Sistemas, de Contagem, fechou neste ano dois contratos com a Petrobras, e se programa para atender novos pedidos. “A confirmação de um consórcio vencedor (no Campo de Libra) dá novo alento à cadeia de fornecedores, que se viu frustrada com as dificuldades da OGX. O Campo de Libra e o plano de investimentos da Petrobras estimula a formação de uma cadeia de fornecedores forte”, diz o diretor-geral da empresa, Adel Hamdan.
As soluções desenvolvidas pela empresa são utilizadas tanto nas plataformas, na fase de exploração do óleo, como posteriormente, na industrialização da commodity, nas refinarias. Um dos contratos, de R$ 95 milhões, prevê a entrega de quatro módulos para as plataformas P-66 e P-69, enquanto o outro, de R$ 58 milhões, envolve o fornecimento dos sistemas elétricos e de automação para as plataformas P-74, P-75, P-76 e P-77.
De acordo com Hamdan, a perspectiva é de alta considerável da demanda, não apenas pela Petrobras, mas para todo o segmento de óleo e gás.
Empresas buscam capacitação para o setor de óleo e gás
Desde 2005 o Sebrae Minas desenvolve projetos para capacitar fornecedores do setor de óleo e gás. As ações são resultado de um convênio firmado com a Petrobras, que atualmente possui quase 100 empresas em capacitação, com projetos em Montes Claros, onde a estatal tem uma unidade de biocombustíveis, em Uberaba, onde vai construir uma fábrica de amônia, e em Betim, na Refinaria Gabriel Passos (Regap).
A capacitação é subsidiada pela Petrobras e o Sebrae, sendo que o empresário investe 20% do custo total do projeto. A formação envolve cursos de gestão empresarial e inovação e tecnologia. “Temos casos no setor de serviços de empresas que montaram o restaurante para os funcionários da Petrobras e acabaram ampliando o negócio para outras unidades da empresa”, observa Simone Mendes, analista da Unidade de Indústria do Sebrae Minas.
Ela comenta que as maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas de menor porte ocorrem em casos de fornecimento de equipamentos com muita especificidade técnica. “Os empreendedores devem fazer um cálculo muito criterioso para saber se o retorno do investimento compensa o aporte para a produção na escala exigida pela empresa”, afirma.
Os sócios da IE Tecnologia, em Itajubá, decidiram apostar. “Conversamos com o diretor de um laboratório que fica aqui na Universidade Federal de Itajubá e ele nos apontou a necessidade de um cilindro sensor que faz emulsão de petróleo e que fosse desenvolvido para as características do petróleo brasileiro. O que existe no mercado é importado”, conta o engenheiro de automação da IE Tecnologia, Johnny Wallace dos Santos Pizzatto.
Em 2012, a empresa conseguiu junto ao Sebrae uma verba de R$ 30 mil para desenvolver o produto, que está em fase adiantada de desenvolvimento. “Como já tínhamos um produto similar, que detecta a qualidade dos combustíveis, resolvemos adaptá-lo. O novo cilindro detecta a quantidade de água no petróleo durante a extração por meio de imagens”, diz.
Embora não haja garantias para a empresa de que a Petrobras vá comprar o produto, os sócios da IE Tecnologia enxergam um amplo mercado pela frente. “Há uma tendência positiva com a expansão do setor de óleo e gás. Ser fornecedor da Petrobras é uma tarefa bem difícil, a empresa tem exigências técnicas e burocráticas imensas. Mas além de existirem outras empresas do setor, a parceria com universidades é um caminho para nos aproximar da Petrobras, que tem parceria com várias instituições”, afirma o administrador da IE Tecnologia, José dos Santos Júnior.
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