Marco Polo de Mello Lopes - “Temos um mantra: crescer em 2013”

Bruno Porto - Do Hoje em Dia
02/01/2013 às 07:41.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:13
 (CRISTIANO COUTO/ARQUIVO HOJE EM DIA)

(CRISTIANO COUTO/ARQUIVO HOJE EM DIA)

A retomada da siderurgia nacional está nas mãos do governo. Fragilizadas desde a crise financeira de 2008, as companhias do setor perderam valor de mercado, operam com margens impensáveis e cortam investimentos. “Não faz sentido investir um centavo que seja em capacidade adicional”, aponta o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes. Na entrevista a seguir, ele não demonstra otimismo para 2013 e faz o balanço de 2012 como “um ano muito difícil”.

Marco Polo defende que o governo seja mais agressivo nas políticas de defesa comercial e corrija o que ele denominou de assimetrias competitivas. Para o dirigente do setor siderúrgico, a competição é global e as condições devem ser simétricas. O aço chinês, por exemplo, tem custo de produção muito menor do que o brasileiro e entra no país sem barreiras comerciais e com volumes altos. A tributação é outro problema. O custo de aquisição de produtos siderúrgicos no país é muito elevado quando comparado a outros países. No caso do preço do vergalhão, por exemplo, 36,2% são tributo. O mesmo produto recebe nos Estados Unidos tributação equivalente a 21,9% do preço e na China, 19,8%.

Como avalia o desempenho da siderurgia nacional em 2012?

Foi um ano muito difícil. A principal razão disso é a não evolução do mercado interno e as altas taxas de penetração do aço importado no país. A alternativa para as usinas seria de buscar mercado externo para manter a taxa de ocupação dos fornos alta, que é uma necessidade operacional do setor. Mas como existe uma sobra de aço muito grande no mundo, esse movimento foi limitado. Vamos fechar o ano com utilização de 72% da capacidade instalada enquanto o desejado era de 90%.

Qual será o resultado dos principais indicadores de desempenho do segmento em 2012?

Ficarão aquém do esperado. Ainda tratamos como projeção porque permanecemos produzindo, mas serão números muito próximos das previsões. A produção de aço vai atingir 34,8 milhões de toneladas contra 35,2 milhões de toneladas em 2011, uma queda de 1,1%. Isso se deve muito à paralisação programada do alto-forno da ArcelorMittal Tubarão.

As vendas devem atingir 21,7 milhões de toneladas ante 21,4 milhões de toneladas de 2011, um crescimento muito pequeno. As exportações cairão 10,9%, de 10,8 milhões de toneladas para 9,6 milhões de toneladas. Já as importações terão leve aumento de 0,29%, mas sobre uma base ainda muito alta. Em 2011, a entrada de aço estrangeiro no país somou 3,8 milhões de toneladas e, em 2012, serão 3,7 milhões de toneladas. No passado (pré-2008), as importações eram de cerca de 1,5 milhão de toneladas. No entanto, também já atingiram 5,9 milhões de toneladas em 2010, o que representou mais de 20% do mercado.
 
Em 2012 muitas empresas paralisaram ou cancelaram projetos. O cenário traçado para 2013 pode favorecer a retomada dos investimentos ou o ambiente ainda não é propício a isso?


Temos que separar os investimentos em dois tipos. Tem aquele voltado para melhoria do mix de produtos, da linha de acabamento, em produtividade. Esses devem ser mantidos. Os outros, que são para adicionar nova capacidade de produção, continuarão sem sentido uma retomada. Primeiro, porque existe uma sobra de aço grande não só externamente, como também internamente. Temos uma capacidade de 48 milhões de toneladas para uma demanda interna de 28 milhões de toneladas. Ou seja, uma sobra de capacidade da ordem de 72%. Não faz sentido investir um centavo que seja em capacidade adicional com a sobra de capacidade monumental que temos. Outro fator que corrobora isso é o custo do investimento no Brasil. O capex de um projeto greenfield é de algo próximo de US$ 1,8 milhão para uma capacidade de uma tonelada de aço. Na China, o mesmo projeto teria orçamento de US$ 550 mil
 
Entrará em vigência no ano que vem a MP que coloca fim à guerra dos portos. Além disso, o governo federal impôs várias medidas antidumping contra o aço importado, como no caso dos tubos de aço. Essas medidas são suficientes para reduzir de forma significativa a taxa de penetração do aço estrangeiro no país?

Tivemos algumas notícias favoráveis como a dos tubos de aço, mas tivemos também uma grande frustração com a decisão de não se tomar medidas de proteção contra os aços planos revestidos, que atendem o setor automotivo. Isso impacta de forma severa a CSN, Usiminas e ArcelorMittal. Vamos entrar com recursos para retomada das investigações.

Por outro lado, o fim da guerra dos portos terá efetivamente um impacto positivo. Houve também um aumento de alíquota de importação, de 12% para 20%, de dez produtos, o que também colabora. Ainda tem o câmbio, que saiu de um patamar muito ruim para o setor, não está no que seria o ideal, mas melhorou. Tudo isso retira um pouco da artificialidade das importações. Teremos melhores condições, mas é difícil dizer se vamos conseguir voltar aos patamares históricos da taxa de penetração do aço estrangeiro, que oscilava de 5% a 6%. (Hoje, está em torno de 15%).

Qual o maior desafio em 2013 para o setor?

Temos um mantra: o crescimento do mercado interno. Mas não podemos crescer para fora (importações). Precisamos de defesa comercial. O consumo per capita de aço na China em 1980 era de 34kg por habitante e no Brasil de 100kg por habitante. Em 2012, no Brasil, será de 128 kg por habitante, e na China, acima de 400 kg por habitante.

As medidas anunciadas pelo governo federal no Plano Brasil Maior, como redução do preço das tarifas de energia, pacotes de concessões no setor de infraestrutura e outros investimentos e deso- nerações colaboram para uma retomada da siderurgia nacional ou são medidas muito tímidas? O que mais pode ser feito?

É fundamental que se defina o conteúdo nacional nos planos de investimento do governo e como se controlará essas compras. Nos Estados Unidos existe o programa “Buy America” e é natural que se faça algo semelhante no Brasil. Nada mais razoável. Mas temos que ter métricas e rastreabilidade para monitorar se isso será cumprido. Esse é um ponto. Por outro lado, o governo acerta ao corrigir assimetrias competitivas, como o corte nas tarifas de energia, que é uma medida muito importante. Favorece o setor, principalmente as usinas que utilizam sucata (possuem fornos elétricos). Outra questão, que deve ser a principal prioridade de 2013, é a tributação.

Há espaço, em 2013, para melhoria nas margens com que o setor opera hoje, de forma a impactar positivamente o resultado financeiro das empresas?

Pode haver alguma recuperação. A expectativa é de melhoria, porque teremos um melhor ambiente de competição com medidas que favorecem o segmento.
 

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