Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que mais da metade da população graduada atua em uma área distinta daquela da formação. As motivações para o desvio de percurso variam bastante, mas, quase sempre, são baseadas na frustração com o ambiente de trabalho e na busca por mais qualidade de vida.

Essa movimentação foi confirmada por uma pesquisa realizada pela empresa de recrutamento e seleção Catho. O estudo mostrou que 52,7% dos entrevistados pretendem procurar um novo emprego neste ano – sobretudo, por causa do estresse que vivem no emprego atual.

“Antigamente, as pessoas tinham as fases da vida muito bem estabelecidas pela sociedade: estudar, trabalhar, casar, ter filhos. Hoje, elas fazem buscas pessoais por sua missão, pelo que lhes dá prazer, as motiva a acordar cedo, pela contribuição que querem deixar”, afirma a coach e especialista em Programação Neolinguística Chana Vasco.

Mas, segundo ela, a decisão de mudar de direção precisa ser avaliada com distanciamento emocional, principalmente, se o problema for de relacionamento, e sem fechar as portas do mercado.

“A tentativa de mudança pode dar muito certo – e a pessoa tem que trabalhar para isso mesmo –, mas é bom manter bons relacionamentos, caso alguma coisa dê errado”.

Guinada orientada

O maquiador Messi Júnior resolveu promover uma reviravolta na própria vida depois que o corpo deu sinais de estafa. Formado em Administração por influência dos pais, ele trabalhou durante sete anos em uma agência bancária e foi bem sucedido nesse período, mas sentia-se frustrado por não fazer o que gostava.

“Na época em que saí (do banco) foi complicado, porque é preciso respaldo quando vamos mudar de área, até mesmo financeiro. Hoje, tenho uma carga de trabalho maior, mas meu cansaço é só físico, faço tudo com amor”, diz.

De acordo com o professor de Psicologia das Organizações da Universidade Fumec, Tadeu Otávio Sales Sampaio, situações como a de Júnior são comuns e não raramente resultam em insatisfação.
 
Orientação falha

“O problema inicial é a pessoa escolher uma carreira que não é a de competência dela, por indicações e pressões familiares ou por pressões do próprio mercado, que pode indicar uma área de sucesso ou a moda do momento”, afirma Sampaio.

Para Chana, a decisão de mudar o rumo profissional pode ser mais facilmente tomada depois que as opções são colocadas no papel, tornando-se uma meta a ser trabalhada. “Isso ajuda a pessoa a saber exatamente o que quer, porque muita gente sabe o que não quer e isso é muito bom, mas não é suficiente, diz a coach.
 
Falta informação na hora da escolha

Atuar em uma área que não traz satisfação pode ser consequência de uma escolha que contraria um princípio básico das profissões: a vocação.

De acordo com o consultor organizacional e diretor-presidente da RHUMO Consultoria, Sérgio Campos, uma coisa é estar determinado a estudar uma disciplina e outra é estar apto a seguir nela.

“As pessoas têm que decidir em que área atuar muito novas e nem sempre elas são bem instruídas para saber com que tipo de coisa essa área trabalha. E nem tudo é grana, muitas vezes, o negócio é ter jeito, tino para a coisa”, afirma Campos.

O sócio e chef do Bar e Restaurante Casa Cheia, Ilmar de Jesus, experimentou na pele essa máxima. Formado em Engenharia Civil e bem empregado em uma multinacional, ele deixou a formação para trás para ajudar nos negócios da família.

“Não imaginava chegar ao ponto em que cheguei, me voltei por completo para a gastronomia, me aprofundei e hoje é muito gratificante ver o sucesso do restaurante”.

Sócio-diretor do Instituto L’Oréal Professionnel Belo Horizonte, Luciano Maciel está acostumado a ver profissionais buscando formações alternativas. “Tenho percebido as pessoas saturadas em suas áreas. Muitas já têm um diploma e agora correm atrás do sonho pessoal”.

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