(Maurício Vieira/ Hoje em Dia)
Ir e voltar do trabalho bancando o combustível do carro virou um desafio diante dos reajustes seguidos da gasolina e do etanol e já faz muita gente buscar alternativas de transporte para fechar o orçamento. A reação mais óbvia costuma ser deixar o carro na garagem e apelar ao ônibus ou ao metrô, mas alguns belo-horizontinos estão encarando o trajeto a pé, de moto ou até mudando o escritório de endereço para economizar.
Os boletos para pagar e os combustíveis nas alturas levaram Edneia Ramos, corretora de imóveis em Contagem, na Grande BH, a tomar uma decisão radical. Ela transferiu o escritório só para ficar mais perto de casa e, assim, poupar. “Hoje venho a pé, caminhando com minha ‘rasteirinha’. Chego e calço meu salto alto. Antes eu gastava R$ 800 com combustível por mês. Com a economia, pago o aluguel e ainda fico com o troco”.
(Fernando Michel/ Hoje em Dia)
Nos últimos 12 meses, a gasolina subiu 28,2% na região metropolitana. Na comparação com o período pré-pandemia, a elevação foi ainda maior. O litro da gasolina, que custava, em média, R$ 4,68 em janeiro de 2020, chegou a R$ 7,40 atualmente – uma diferença de 58,1% nas bombas. Na prática, significa que o motorista que gastava R$ 210 para encher o tanque de um carro popular padrão hoje tem que desembolsar R$ 333.
Segundo Ricardo Mendanha, especialista em trânsito e mobilidade e representante da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP) em Minas, a escolha por formas diferentes de transporte passa por diversos aspectos, mas o impacto no bolso é o mais relevante.
“O preço dos combustíveis é um limitador, mas pode realmente tornar o transporte impossível. Quem está desempregado e não tem renda utiliza bicicleta, pois não tem dinheiro para outros meios”, diz.
As vendas de motos e bicicletas confirmam a mudança. Os emplacamentos de motocicletas aumentaram 25,62% nos quatro primeiros meses de 2022 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Anfavea. No caso das bicicletas, o setor registrou um crescimento de 3,8% – o que representa 230 mil unidades a mais nas ruas. A razão, segundo a associação que representa o setor, é a alta nos combustíveis.
“Com a escalada dos preços, o baixo custo das motos ficou ainda mais evidente para a população”, afirma Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
O professor de educação física Lucas Freitas recorreu à moto para trabalhar e economizar. “Troquei o carro por questão de economia mesmo. Para mim é inviável usar ônibus ou ir trabalhar a pé, então a única solução foi essa”. O gasto de R$ 400 por mês com combustível caiu para cerca de R$ 150.
Para outros, o ônibus foi a chave para poupar. “Levo mais tempo no trajeto e tive que adequar minha rotina para chegar ao ponto antes do horário de pico, mas a economia compensa”, diz o servidor público Victor Augusto.
Ele mora no Jaraguá, na Pampulha, e trabalha no Anchieta, na região Centro-Sul de BH. Desembolsaria aproximadamente R$ 700, com combustível e estacionamento, se fosse de carro para o serviço. “Com a economia, a gente acaba investindo em nós mesmos”, conta.
Leia mais:
Mais de 1,9 mil estudantes em BH ainda não retiraram o benefício do Meio Passe Estudantil de 2022
Presidente do grupo de quadrilha Pé Rachado é umas das vítimas do acidente no Anel Rodoviário
Polícia apreende 36 toneladas de sabão em pó falsificado em galpão em Pará de Minas