A hora de mudar a política econômica passou, apesar da "tempestade perfeita" formada pelos problemas das últimas semanas. O Palácio do Planalto e o chamado núcleo duro da equipe econômica avaliam que a turbulência no câmbio, a alta taxa de inflação e as críticas à política de gastos, que culminaram com a ameaça de rebaixamento da nota brasileira pela Standard & Poor's, não exigem uma mudança de rumos. A ordem é reforçar a "nova matriz macroeconômica", em vez de retomar a ortodoxia econômica de Fernando Henrique Cardoso e Lula.
Os anúncios de pacotes vão continuar se fazendo necessários, uma vez que, na visão do governo, incentivam os investimentos ao mesmo tempo em que ajudam a reduzir a inflação. Para apertar as contas, o governo vai usar recursos das privatizações no pagamento de juros da dívida pública. Algumas travas ao câmbio, como a cobrança de Imposto sobre Operações Financeira em títulos públicos e derivativos, foram tiradas. E o Banco Central já apertou os juros um pouco mais.
Nas últimas semanas, o governo chegou mais perto do botão de pânico com a série de notícias negativas na economia. Ao crescimento pífio do primeiro trimestre, somou-se a admissão de que o BC precisava apertar mais os juros, o que trava ainda mais a economia.
A tempestade não abateu apenas a economia. Pesquisas de opinião passaram a captar perda de apoio ao governo entre a população. O noticiário também ficou tomado por protestos de indígenas, em Brasília, contra eventuais mudanças na política de demarcação de terras, e de manifestantes em cidades como São Paulo e Rio contra a alta de tarifas de ônibus.
Calibragem
"Vai ter um ou outro ajuste pequeno, mas agora os dados estão lançados", disse um interlocutor da presidente. Ou seja, a ordem parece seguir nas medidas a conta-gotas para problemas específicos. Não vem, por exemplo, um ajuste forte nas contas públicas, como defendeu o ex-ministro Delfim Netto.
Uma fonte petista explicou que, de fato, ninguém está satisfeito com os rumos da economia. Mas, a essa altura, não há mais tempo para uma guinada. Primeiro, porque seria admitir o fracasso da "nova matriz macroeconômica". Segundo, porque os resultados de um ajuste mais estrutural - como a flutuação total do real, a elevação do esforço fiscal ou a redução da meta de inflação - demorariam a surtir efeito, e as campanhas eleitorais estarão na rua em 12 meses. "Estamos numa corrida de Fórmula 1, na frente, faltando dez voltas, e já não entra mais a quinta marcha, a sexta marcha", comparou o petista. "Agora é administrar a vantagem no braço e tentar chegar na frente."
Em Brasília, a visão é de que o segundo semestre de 2013 será o mais importante do governo. Segundo os cronogramas das concessões ao setor privado de rodovias, portos, ferrovias e aeroportos, as licitações ocorrerão entre julho e dezembro. Caso elas efetivamente saiam do papel, a taxa de investimentos na economia vai começar a aumentar a um ritmo acelerado. Ao mesmo tempo, a inflação deve, enfim, iniciar trajetória de queda, como resultado das medidas de aperto do BC.
Neste período será importante, também, atuar de forma mais "suave" no Congresso Nacional, para evitar que os parlamentares aprovem o Orçamento "impositivo". Na visão do Planalto, este é o maior risco no horizonte de 2013. Um primeiro sinal será dado com o anúncio do novo Código de Mineração, previsto para terça-feira. Em vez de adotar o expediente das medidas provisórias, o governo vai enviar ao Congresso um projeto de lei. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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