Relatório da agência de risco Moody's aponta que o chamado risco de liquidez aumentou no Brasil. Isso indica que um número maior de empresas brasileiras terá mais dificuldades para quitar suas dívidas em 2015 e 2016. Entre as 47 companhias avaliadas no relatório, 32% - praticamente um terço - têm um elevado risco de liquidez. No levantamento anterior, realizado no ano passado, a parcela mais frágil correspondia a 19% das empresas.
O grupo de companhias avaliadas é composto apenas por corporações com nota B3 ou acima, que têm finanças mais robustas, e não inclui empresas públicas ou bancos.
Segundo Erick Rodrigues, analista da Moodys para o grupo de finanças corporativas, um conjunto de fatores piorou o cenário e vai afetar o fôlego financeiro das empresas: inflação mais resistente, a perda de confiança dos consumidores e dos investidores, queda no preço das matérias-primas, tanto minerais quanto agrícolas, bem como uma maior dificuldade para recorrer ao mercado de capitais.
Neste ano em particular o analista destaca: "As empresas brasileiras enfrentam dois riscos importantes que podem levar a quebras de contratos em 2015: o real fraco e uma economia mais lenta", diz Rodrigues.
A Moodys levou em consideração os efeitos da Operação Lava Jato e da crise na Petrobras, que afasta investidores e obriga a estatal a reduzir investimentos, afetando diversos setores.
Para fazer as projeções, a agência contabilizou dívidas ao final de 2014, a capacidade de geração de caixa das empresas e as linhas de financiamento a que têm acesso. Também avaliou a capacidade de elas receber aportes de acionistas.
As indústrias de petróleo e gás, de carnes e agricultura representam, juntas, pouco mais de metade da dívida com vencimento até meados de 2017. Petrobrás, JBS, BRF estão nesta lista. Nenhuma delas, porém, aparece na relação das mais fragilizadas.
No relatório, 15 empresas foram consideradas de alto risco de liquidez, mas nove em particular foram destacadas como "mais frágeis" porque sofrem pressão no curto prazo para quitar suas dívidas: ALL, do setor ferroviário; Biosev, de açúcar e álcool; Oi, na telefonia; a rede de farmácias Brasil Pharma; Paranapanema, do setor siderúrgico; a fabricante de embalagens Vidroporto, e na área de infraestrutura PDG, Brookfield e MDL. "As mais frágeis sofrem, ao mesmo tempo, com a conjuntura e com problemas pontuais de gestão", diz Rodrigues.
Empresas
Procuradas pela reportagem, algumas empresas discordaram das análises da agência. O presidente da Paranapanema, Christophe Malik Akli, destacou que o resultado da empresa no primeiro trimestre contraria as previsões da Moodys. "A companhia tem um caixa de R$ 1,1 bilhão, que cobre os repagamentos eventuais de dívida para os próximos dois anos: quando você tem dinheiro em casa, que cobre dois anos de vencimento da dívida, acredito que não há nenhum risco para a liquidez da companhia", disse.
José Cezario Menezes de Barros Sobrinho, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da ALL, a Moodys pode não ter incluído nas análises os movimentos recentes da empresa. O executivo destaca que a ALL melhorou o perfil de sua dívida no início de ano, reduzindo a de curto prazo, aprimorou o índice de liquidez e garantiu crédito para os investimentos. Na sua avaliação, a capacidade de caixa também tende a melhorar.
Flávio Nicolay Guimarães, diretor financeiro da Oi, destacou que a empresa já contratou linhas de crédito para arcar com qualquer vencimento de dívida no curto prazo. Em nota, a PDG informou que vem melhorando a geração de caixa e que aprovou um aumento de capital. As demais empresas preferiram não comentar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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