Bancos e economistas em Wall Street preveem que a presidente Dilma Rousseff deve seguir no governo em 2016, mas a economia pode piorar mais e o dólar deve superar o patamar de R$ 4,00. Reformas serão difíceis de avançar em meio à turbulência política e permanece a chance de um novo rebaixamento da classificação de risco brasileira, de acordo com representantes de bancos como Bank of America Merrill Lynch, JPMorgan, Goldman Sachs, Citibank e Deutsche Bank que participaram do encontro anual da EMTA, associação com sede em Nova York que reúne operadores e investidores dedicados a mercados emergentes.
A visão sobre o Brasil em 2016 passada pelos participantes no evento, que reuniu mais de 200 pessoas, não foi nada animadora. O Bank of America, por exemplo, prevê que 2016 deve ser um ano pior que 2015, com a economia se contraindo 3,5%.
Nenhum dos presentes vê o dólar sendo negociado abaixo de R$ 4,00 no ano que vem e algumas previsões falam na moeda acima de R$ 4,50. "O Brasil parece estar em um poço de onde não se vê saída", disse o estrategista da gestora Schroders Investment Management, Jim Barrineau. Ontem, a Bolsa levou um tombo de 2,23% e o dólar encerrou o dia praticamente estável, cotado a R$3,7471.
No bloco do seminário destinado ao Brasil, a economista-chefe de pesquisa global do JPMorgan, Joyce Chang, começou a apresentação perguntando se os participantes acreditavam que Dilma ainda estaria na presidência no final de 2016. Com a ponderação de que o processo de impeachment será longo, tem desfecho imprevisível e pode ser influenciado por uma série de fatores, como o apoio da opinião pública, a economista e os outros participantes disseram acreditar, neste momento, na permanência de Dilma no Planalto.
Complexo
O economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, classifica a situação no Brasil como "extremamente complexa" e o País dá sinais de estar passando de uma recessão para uma depressão da economia. A previsão do banco é do PIB encolhendo 3,7% este ano e mais 2,3% em 2016, números, que segundo Ramos, podem já ser conservadores, pois a contração tem chances de ser ainda maior nos dois períodos. Ele ressaltou que já são nove trimestres consecutivos de queda do investimento, em uma média anualizada de 10%: "Isso é muito sério."
O processo de impeachment, avalia Ramos, deve ser longo e provocar solavancos. "Não sabemos aonde este processo vai levar", afirmou. Para o diretor do Barclays, Christian Keller, o cenário é que Dilma permanece no governo, mas a situação em Brasília está uma "bagunça", que deve seguir em 2016.
Difícil ser otimista
"É muito difícil ser otimista no Brasil neste momento", afirmou o economista responsável por mercados emergentes no Deutsche Bank, Drausio Giacomelli, ressaltando que espera nova contração do PIB no ano que vem, ao redor de 2%. Ainda não há indícios de apoio popular ao impeachment, mas o economista avalia que isso pode ocorrer em 2016 com a piora de alguns indicadores, como a taxa de desemprego. Para ele, se o impedimento não ocorrer no primeiro semestre do ano que vem, dificilmente passaria, porque em seguida vem as eleições para governadores e deputados e o clima político muda. Para o câmbio, a previsão de Giacomelli é da moeda norte-americana em R$ 4,25 em dezembro.
O Bank of America Merrill Lynch está ainda mais pessimista com o Brasil. Além de previsão maior para a queda do PIB, o chefe do banco para renda fixa de emergentes, Alberto Ades, vê a moeda chegando R$ 4,50: "Estamos no lado mais pessimista do mercado, mas já vi previsões de o PIB brasileiro encolhendo 4% no ano que vem."
Lava Jato
Um fator positivo para o Brasil no momento é o combate à corrupção, disse o gestor da Loomis Rolley, David Sayles, que administra US$ 200 bilhões. "Ajuda a ficar otimista com o longo o prazo", afirmou ele, ressaltando que as investigações persistem, o número de presos aumenta e podem levar a uma "limpeza" no país.
No debate, Giacomelli, do Deutsche Bank, arrancou risos da plateia ao brincar que a expectativa é que os gastos em infraestrutura no Brasil aumentem no ano que vem, porque vai ser preciso construir mais prisões para abrigar tantos presos envolvidos em escândalos de corrupção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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