Custo da chuva

Perda de lavoura com temporais em Minas vai deixar alimentação mais cara

Janaína Fonseca
jmaria@hojeemdia.com.br
Publicado em 10/11/2022 às 07:00.

Lavouras de café foram as mais afetadas por temporais no início de outubro e nesta semana (Emater-MG/Divulgação)

Foram apenas dois dias de chuva forte, mas o suficiente para causar estragos nas lavouras mineiras, principalmente nos locais onde foram registradas tempestades de granizo. Mais um fator de impacto nos preços dos alimentos, que já vêm castigando o orçamento familiar neste ano. Primeiro, foi a alta do preço dos combustíveis, depois a seca, seguida de eleições, protestos que fecharam as rodovias e pararam caminhões e, agora, a chuva.

As regiões mais prejudicadas, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), são a Zona da Mata, Alto Paranaíba e Sul de Minas. Equipes da estatal já estão em campo para fazer o levantamento das áreas atingidas e dos prejuízos gerados. Perdas que, inevitavelmente, irão impactar nos preços dos alimentos no Estado.

O levantamento começou nesta quarta-feira (9) e será finalizado na sexta-feira (11). As tempestades ocorreram principalmente nos dias 7 e 8 de novembro. “Neste momento, os técnicos de campo estão fazendo os levantamentos e relatórios das áreas atingidas. Tudo indica que as lavouras de café foram as mais prejudicadas. Municípios como Cabo Verde e Campos Gerais, no Sul de Minas, registraram grande volume de chuva, com granizo”, afirma o coordenador técnico estadual da Emater-MG, Willem de Araújo.

Segundo a presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Alfenas, no Sul de Minas, Elvira Alice de Souza, a chuva atingiu grande faixa do município, prejudicando lavouras de café, milho e soja. “As perdas podem chegar a 60% devido ao período da cafeicultura, pois atingiu o grão em formação. E o que não foi para o chão ficou machucado, o que impacta na qualidade da próxima safra”, explica.

Em Passos, também no Sul do Estado, o produtor rural Marco Antônio Calixto lamentou os danos. “As lavouras de milho e soja estavam em formação e foram atingidas em uma área de 65 hectares. Na lavoura de soja será perda total, além da infraestrutura de barracões que foi atingida e ficou sem os telhados”, conta.

Mais caro
Perdas que, inevitavelmente, impactam no preço dos alimentos que chegam ao consumidor. E o reflexo é rápido, quase imediato, avalia a economista Vânia Vilas Bôas, professora do Departamento de Economia da Unimontes. "O que mais tem afetado o bolso do consumidor são justamente os alimentos, especialmente os in natura. Nesse momento de excesso de chuva e com granizo, haverá uma perda da produção, gerando impacto imediato nos preços devido à redução na oferta dos produtos", avalia.

Vânia Vilas Bôas ressalta que esses extremos climáticos já vinham contribuindo para o aumento dos preços dos alimentos. "Primeiro foi seca, agora chuva e granizo. Teremos um final de ano com preços mais elevados", diz.

Pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG) mostrou que, em outubro, a cesta básica ficou 2,09% mais cara em Belo Horizonte em relação a setembro, chegando a R$ 692,27. Os principais vilões dessa alta foram a batata inglesa, que ficou 25,39% mais cara; o tomate, com alta de 14,64% e a banana caturra, que teve variação de 10,49%.

Prejuízos
De acordo com o vice-presidente de Finanças do Sistema Faemg, Renato Laguardia, a instituição está trabalhando no levantamento das culturas atingidas e nas estimativas de prejuízos em curto, médio e longo prazos. “Tivemos o relato de que os danos foram enormes em pastagens, produções de café e outros grãos. Estamos atentos, nos reunindo com a CNA, órgãos municipais, estaduais e federais, no sentido de buscar soluções conjuntas que minimizem os danos aos nossos produtores rurais”, diz.

A orientação aos produtores é que busquem a assistência técnica da Emater-MG para minimizarem as perdas. “As plantas deverão apresentar lesões causadas pelas pedras e que são porta de entrada para doenças fúngicas e bacterianas. Recomendamos que procurem a assistência técnica da Emater para orientação da melhor forma de minimizar o problema. Não se precipitem em fazer podas, às
vezes desnecessárias, ou usar produtos 'milagrosos'. Não façam nada sem um acompanhamento técnico”, alerta o coordenador técnico de Culturas da Emater-MG, Sérgio Brás Regina.

Crédito
A empresa também lembra que os produtores atingidos e que obtiveram crédito rural do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) devem procurar as instituições financeiras. “Essas operações são cobertas pelo seguro do Proagro e Proagro Mais. O produtor deve comunicar as perdas ao agente financeiro, o mais rápido possível, para a indicação de um profissional para a vistoria da área afetada”, explica o coordenador Willem de Araújo. Esta cobertura do seguro do Pronaf é para contratos de crédito rural renovados a partir de 1º de julho deste ano (safra 2022/2023).

Os prefeitos também devem ser acionados para que decretem situação de emergência ou calamidade pública, em razão da extensão dos danos. Isto é muito importante para políticas públicas, crédito rural e até mesmo tributos como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR).
 
Chuvas de outubro
As chuvas de granizo já haviam feito estragos na lavoura mineira em outubro. Segundo a Emater-MG, 16,8 mil hectares foram atingidos e 2.039 produtores rurais tiveram algum tipo de perda, em 63 municípios. 

Os maiores prejuízos foram nas regiões Sul, Campo das Vertentes, Central e Zona da Mata. Os plantios de café arábica foram os mais impactados, com 13 mil hectares. O número representa 77% do total atingido pelas chuvas em Minas Gerais. O levantamento da Emater-MG mostra ainda que 1.090 cafeicultores sofreram algum tipo de perda. Os municípios de Andradas, Coqueiral,
Campanha e Paraguaçu, no Sul do Estado, foram os que tiveram as maiores áreas de café prejudicadas pelo fenômeno.

A segunda cultura com maior área atingida pelas chuvas de granizo foi a citricultura, com 2,4 mil hectares. Pelos menos 135 citricultores mineiros relataram perdas. Os pomares mais afetados estão em Campanha, Paraguaçu e Três Corações, no Sul de Minas, além de Tocantins, na Zona da Mata.

Ainda na fruticultura, foram registrados prejuízos em lavouras de abacate. Foram 190 hectares atingidos no Sul de Minas, nos municípios de Três Corações, Campanha e Bom Jesus da Penha. Além disso, 36 hectares com plantios de uva na região foram atingidos.

Hortaliças
Os produtores de hortaliças também amargaram perdas com os temporais do início de outubro. No levantamento feito pela Emater-MG, 302 agricultores relataram algum tipo de prejuízo, em 503 hectares. Os maiores danos foram em plantios de folhosas, com 212 hectares. 

Mas também houve perdas em outras culturas como tomate, abobrinha e couve-flor. Os municípios de Andradas, Três Corações, Pouso Alto (Sul), Paula Cândido (Zona da Mata) e Carmópolis de Minas (Central) foram os mais prejudicados.

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