Toma lá, dá cá

Permuta cresce na pandemia como forma de aliviar caixa de empresas

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
Publicado em 05/02/2022 às 06:30.
TOMA LÁ, DÁ CÁ – Bernardo Santana, membro do Clube De Permuta, tem fábrica de móveis e já trocou seu produtos por aluguel de galpão e até serviços de advogados (Maurício Vieira)

TOMA LÁ, DÁ CÁ – Bernardo Santana, membro do Clube De Permuta, tem fábrica de móveis e já trocou seu produtos por aluguel de galpão e até serviços de advogados (Maurício Vieira)

Em um contexto em que 62% das micro e pequenas empresas e 73% dos microempreendedores individuais (MEI) do país apresentam queda no faturamento, de acordo com pesquisa do Sebrae, formas de aliviar o caixa das empresas e gerar mais chances de negócios têm se diversificado. O mercado de permuta multilaterais, prática de trocas de produtos e serviços entre autônomos e empresas, por exemplo, têm ganhado espaço nestes últimos dois anos como forma de driblar dificuldades que chegaram junto com a pandemia.

Os dados do setor de permutas no Brasil ainda inexistem, mas o International Reciprocal Trade Association (Irta), órgão internacional que representa a atividade, estima que o volume anual de transações por permuta no mundo seja entre US$12 bilhões e US$14 bilhões. 

De olho nesse mercado, Leonardo Bortolleto criou em 2012 o Clube De Permuta, em Belo Horizonte, e no último ano viu o negócio crescer 12% em relação a 2019. O empreendimento opera em dez Estados e tem 1.600 empresas associadas. A principal seara fica na capital mineira, com 270 negócios trocando serviços e produtos por meio de uma plataforma digital com formato de e-commerce. “O último ano foi o que a gente mais cresceu.

No Brasil todo foram 250 novas empresas dentro da plataforma buscando esse alívio de caixa e, dentre nossos associados, a taxa de empresas que encerram as atividades foi de 1,7% na pandemia”, diz. 

Segundo o empresário, não há um perfil de empresas participantes. O ecossistema das trocas inclui desde indústrias, atacados, varejo, supermercados e prestadores de serviços. “Uma empresa patrimonial já trocou uma aeronave em imóveis, viagens e produtos e serviços de uma agência de comunicação e publicidade”, exemplifica. 

Negócio saiu do papel

O empreendedor Bernardo Santana planejava o lançamento de sua marca de móveis no estilo ‘faça-você-mesmo’ desde 2017, mas só saiu do papel em 2020. Apesar de estar indo bem, a pandemia estragou boa parte dos planos para o negócio e o empresário viu nas permutas uma forma de poupar seu caixa. “É como se fosse uma conta corrente que a gente paga com que produzimos, é como se tivéssemos um crédito constante na praça e, como são muitos associados, é um leque de trocas grande”, afirma.

Por meio das permutas, Bernardo já trocou seu kit de móveis por aluguel de galpão, serviço de dedetização, propaganda e honorários de advogados para confecção de contratos. Ele estima ter deixado de retirar do seu caixa R$115 mil no último trimestre do ano passado.

No caso do advogado Fabiano Zica, com escritório no Prado, que utiliza o sistema de permutas assiduamente há três anos, a estimativa de economia é ainda maior: R$ 300 mil no último ano. “Já troquei meus serviços por atendimentos em clínicas de estética, monitoramento de alarme, alimentação, hotéis, dedetização, marketing e propaganda, vestuário, jóias, brindes e decoração”, lembra. 

Prática antiga

O próprio Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) estimula o uso das permutas como forma de aumentar vendas e transformar tempo e produtos ociosos em lucratividade.

Segundo o analista do Sebrae Minas Victor Mota, a permuta, apesar de ser a prática comercial mais antiga do mundo, caiu em desuso com a criação do dinheiro, mas voltou à cena potencializada pela tecnologia. “Os próprios influenciadores digitais, a fim de facilitar o acesso às empresas, popularizaram a volta da prática de aceitar produtos e serviços da própria empresa como pagamento”, cita.

Victor diz que, entre os principais benefícios da permuta para os empreendedores, destacam-se a redução no custo de operação e o escoamento da produção parada. “Para as empresas é muito vantajoso porque ela pode pagar com o seu produto dispensando o trabalho de vendê-lo com uma margem agregada. Muitas vezes essa economia pode chegar a 50% do valor do produto ou serviço que ela teria se fosse pagar em dinheiro”, estima o analista. 

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